Temas Estratégicos

Agrobiodiversidade é a parte agrícola da biodiversidade formada pelas plantas que têm interesse para as pessoas e, por isso, são cultivadas. É o resultado de milhares de anos de relacionamento do homem com a natureza, com a prática de domesticação de plantas e da agricultura. A agrobiodiversidade inclui as plantas alimentícias, ornamentais, medicinais, aromáticas, têxteis e forrageiras.

A Embrapa Clima Temperado tem realizado ações de resgate, caracterização, conservação e uso da agrobiodiversidade de grãos (feijão, milho, arroz e amendoim), hortaliças (cebola, cenoura, mandioca, batata-doce, pimentas, abóboras, melão e melancia), frutas nativas (araçá, pitanga, uvaia e butiá) e plantas medicinais (espinheira-santa). Nessa linha, vêm sendo executas ações de pesquisa com ênfase em variedades crioulas e frutas nativas no Sul do país, além de identificação e valorização de agricultores guardiões dessas sementes.

O termo agroecologia aparece, inicialmente, por volta dos anos de 1930, onde é proposto como a integração da Ecologia com os sistemas de cultivo. No entanto, essa definição, que carrega em si um conceito etimológico intenso, não representa o verdadeiro sentido do termo em uso.

Com a consolidação do conceito de ecossistema nos anos de 1950, surgem as bases para a análise da agricultura sob uma perspectiva ecológica, o que levou ao conceito de agroecossistemas nos anos de 1970.

Concomitante a esse processo emergem em diferentes regiões do planeta as "agriculturas de base ecológica. Os movimentos sociais camponeses iniciam mobilizações de organização pela redistribuição e acesso à terra e aos meios produtivos e, mais recentemente, surge um fenômeno mundial de preocupação com a qualidade dos alimentos consumidos e com a saúde do planeta em termos de contaminações por agentes químicos.

Novos conceitos são, então, cunhados de forma a dar representatividade à agroecologia. Gliessmann (2001) considera a Agroecologia como a aplicação dos conceitos e princípios da Ecologia no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis. Bases com componentes sociais, econômicos, ambientais, culturais, éticos e outros são incorporados para dar sustentação ao conceito.

As disciplinas científicas das ciências naturais e sociais se agregam com o objetivo de qualificar o papel multi e transdisciplinar, permitindo melhor compreensão do sistema.

Portanto, a Agroecologia constitui-se, cada vez mais, em importante ferramenta para a promoção das complexas transformações sociais e ecológicas necessárias para assegurar a sustentabilidade da agricultura e das estratégias de desenvolvimento rural, considerando a intervenção humana nos ecossistemas e sua complexidade e promovendo o diálogo de saberes entre o conhecimento científico e os saberes populares.

Nesse sentido, podemos entender a Agroecologia como elemento integrador do enfoque científico, dos movimentos sociais e da prática camponesa.

O crescente aumento do interesse de produtores e empresas pela agroenergia tem gerado demandas por informações técnicas sobre matérias-primas para a produção de biocombustíveis. A Embrapa Clima Temperado, desde 2003, tem liderado diversos projetos de pesquisa nesta área, em parceria com mais de vinte instituições públicas e privadas. Outras unidades da Embrapa, Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAs) do Rio , Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, Universidades do RS, PR e SC, cooperativas, associações de produtores, Emater/RS, FETAG, MPA, FETRAFSUL e IEL/FIERGS. Além destes parceiros conta, também, com a colaboração da CATI, IAC, Sementes Armani, Vinema Sementes e da RIDESA através da Universidades Federal do Paraná.

O modelo de gestão compartilhada de projetos, praticado pela Embrapa Clima Temperado, tem proporcionado contribuições importantes para o setor produtivo como a elaboração de recomendações técnicas, zoneamentos agroclimáticos e sistemas de produção, instrumentos fundamentais na definição de políticas públicas, além de diversos trabalhos técnico-científicos publicados em congressos e reuniões técnicas (mais de 400 trabalhos), dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Este conjunto de ações e de articulação institucional tem feito da Embrapa Clima Temperado uma unidade líder na área de bioenergia na Região Sul do Brasil. Geração e transferência de tecnologias, capacitação e formação de recursos humanos tem trazido para a Unidade reconhecimento nacional e internacional tanto na área do biodiesel como do etanol.

Culturas e espécies pesquisadas:

  • Amiláceas: arroz, batata-doce, mandioca
  • Oleaginosas anuais: mamona, girassol, soja
  • Oleaginosas perenes: tungue, pinhão manso
  • Sacarídeas: cana-de-açúcar, sorgo sacarino

Integração lavoura-pecuária-floresta - iLPF é uma estratégia que visa integrar sistemas de produção de alimentos, fibras, energia e produtos madeireiros e não madeireiros, realizados na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica. Busca ainda, a manutenção e reconstituição da cobertura florestal, a recuperação de áreas degradadas, a adoção de boas práticas agropecuárias (BPA) e o aumento da eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, possibilitando, assim, gerar emprego e renda, melhorar as condições sociais no meio rural e reduzir impactos ao meio ambiente em acordo demandas do Plano ABC.

Para o Bioma Pampa, a combinação entre atividades de agricultura, pecuária e silvicultura confere grande versatilidade ao sistema, ao permitir que componentes sociais, econômicos e ambientais sejam considerados na adequação do modelo de integração adequado à realidade de diferentes regiões. O plantio direto com qualidade, a diversificação de culturas, a adequação sistêmica do uso de insumos, o planejamento de uso de áreas e solos em longo prazo e o manejo sustentável das pastagens são bases fundamentais para à estratégia iLPF.

A estratégia iLPF contempla quatro modalidades de sistemas distribuídas, no Bioma Pampa, nas áreas de terras baixas e áreas de terras altas, assim caracterizadas:

  • Integração lavoura-pecuária – AGROPASTORIL sistema de produção com os componentes agrícola (em rotação, sucessão ou consórcio) e pecuário na mesma área, em um mesmo ano agrícola ou por vários anos;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta – AGROSSILVIPASTORIL: sistema de produção com os componentes agrícola (em rotação, sucessão ou consórcio), pecuário e florestal na mesma área. O componente lavoura pode ser restringido à fase inicial de implantação do componente florestal;
  • Integração pecuária-floresta – SILVIPASTORIL: sistema de produção com os componentes florestal (produtos madeireiros e não-madeireiros) e pecuária em consórcio;
  • Integração lavoura-floresta – SILVIAGRÍCOLA: sistema de produção com os componentes florestal (produtos madeireiros e não-madeireiros) e lavoura de ciclo anual ou plurianual na mesma área.

Esses sistemas devem ser adequadamente planejados, levando-se em conta os diferentes aspectos socioeconômicos e ambientais das unidades de produção. Para serem sustentáveis, esses sistemas devem ser:

  • Tecnicamente eficiente, considerando o ambiente no qual se encontra a propriedade e utilizando manejos e insumos adequados e de acordo com as recomendações oficiais;
  • Economicamente viável, pela melhor utilização dos recursos e uso da terra, diversificação e maior estabilidade das receitas e diminuição dos riscos;
  • Socialmente aceitável, por ser aplicável a qualquer tamanho de propriedade, aumentar e distribuir melhor a renda no campo e aumentar a competitividade da agropecuária brasileira; e
  • Ambientalmente adequado, por preconizar a utilização de práticas conservacionistas e de melhor uso da terra.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos, fibras e biocombustíveis. Iimporta a maior parte de suas necessidades em insumos para a produção agrícola, o que coloca o país em situação de grande fragilidade. Essa carência por insumos nacionais, especialmente para a elaboração de fertilizantes, aliado à elevada disponibilidade de coprodutos de processos agroindustriais e da mineração possibilitam o uso agronômico de tais matérias-primas na formulação de fertilizantes.

Diante deste cenário, a partir de 2005, a Embrapa Clima Temperado iniciou pesquisas com os coprodutos da exploração do folhelho betuminoso (xisto), rocha oleígena explorada pela Petrobras - Superintendência da Industrialização do Xisto. Essas pesquisas baseiam-se na avaliação da eficiência agronômica e na segurança ambiental e dos alimentos produzidos a partir do uso dos diferentes coprodutos dessa atividade de mineração. Até o momento, os resultados destes estudos propiciaram a obtenção da licença de uso (Instituto Ambiental do Paraná) e do registro no MAPA (Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento) de dois produtos: a água de xisto, como matéria-prima para elaboração de fertilizantes foliares, e o calcário de xisto, como corretivo de solo.

A partir de 2010, a parceria da Embrapa Clima Temperado com a Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM) – Superintendência de Porto Alegre conferiu nova dimensão ao tema, incluindo a prospecção, caracterização química e petrográfica e avaliação agronômica de diversas fontes minerais com potencial para uso na agricultura. Essa parceria representou um dos maiores avanços no tema, pois uniu duas das áreas que mais têm contribuído para este tipo de pesquisa, a geologia e a agronomia - a Agrogeologia. Várias ações de pesquisa vêm sendo desenvolvidas desde então em parceria com diversas instituições de ensino e pesquisa da Região Sul e Centro-Oeste visando avaliar o potencial dessas fontes de nutrientes nacionais para uso nos diversos sistemas de produção.

Outra importante linha de pesquisa da Embrapa Clima Temperado está centrada na geração de fertilizantes e condicionadores de solo via compostagem ou fermentação de resíduos orgânicos em processos aeróbicos ou anaeróbicos. As matérias-primas testadas incluem rejeitos da atividade pesqueira e co-produtos de processos agroindustriais, especialmente das cadeias produtivas da cana-de-açúcar, arroz, mamona e tungue.

Resultados preliminares destas linhas de pesquisa indicam a existência de grande diversidade de matérias-primas com potencial de uso na agricultura, tendo algumas ampla distribuição nos Estados do Sul do Brasil. Estudos agronômicos ainda em andamento evidenciam que, na maioria dos casos, os materiais testados: a) apresentam capacidades distintas de fornecimento de nutrientes para as culturas, b) proporcionam produtividades médias equivalentes ou superiores às obtidas com fontes solúveis de nitrogênio, fósforo e potássio e c) não apresentam efeitos de acúmulo e/ou translocação de elementos tóxicos no sistema solo-planta.

Uma vez confirmados os resultados obtidos até o momento, os impactos sobre a agricultura brasileira poderiam ser percebidos tanto na diminuição da dependência de importação de fertilizantes quanto na redução dos custos de produção para os agricultores e no aumento da qualidade dos alimentos produzidos.

Mudança climática refere-se a qualquer alteração no padrão do clima ao longo do tempo (décadas ou séculos) devido, tanto à sua variabilidade natural ou como resultado da atividade humana no aumento da concentração dos Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera.

Sobre a temática mudanças climáticas a Embrapa Clima Temperado tem dirigido suas ações voltadas às pesquisas que visam a mitigação dessas mudanças por meio da redução das emissões dos GEEs do setor agropecuário, e pela adaptação de culturas frente aos cenários futuros de aquecimento global e irregularidade da distribuição das chuvas.

Neste sentido, está comprometida com a busca de soluções para o estabelecimento dos programas do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento dentre outros, contribuindo para a consolidação de uma economia de baixa emissão de carbono na agricultura (Plano ABC).

Divulga ainda, como prestação de serviços, o monitoramento e registro das bases de dados climáticas de suas estações agrometeorológicas (uma delas com mais de cem anos de observações meteorológicas) que permitem a avaliação histórica e a comparação com outras bases para verificação dessas mudanças, servindo como referência regional pela consistência de seus dados.

Para acesso ao hotsite do Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado clique aqui: http://www.cpact.embrapa.br/agromet/

As áreas de pós-colheita e ciência e tecnologia de alimentos que compõem o Núcleo de Alimentos englobam ações de fisiologia pós-colheita de frutas e hortaliças, alimentos funcionais e tecnologia de alimentos (com atuação em frutas e hortaliças, leite e arroz). Os pesquisadores da área vêm trabalhando no sentido de buscar alternativas de produtos e processos para aumentar a conservação de alimentos, visando qualidade e a saúde do consumidor, bem como alternativas ao produtor.

Trabalhos têm sido desenvolvidos na identificação de frutas e hortaliças (cenoura, cebola, mirtilo, amora-preta, pêssego, maçã, pitanga, araçá, butiá, morango, batata, etc.) com potencial como alimento funcional, além da identificação de perdas que possam ocorrer durante o processamento e armazenamento de produtos processados.

Em pós-colheita têm sido executadas ações para o aumento da vida útil de citros, mirtilo, amora-preta, pêssego, maçã, etc. através do uso de atmosfera modificada, atmosfera controlada e refrigeração, além das pesquisas com pêssego, maçã, melão e morango minimamente processados.

As ações em tecnologia de alimentos têm como objetivo o desenvolvimento de produtos a partir de frutas nativas (butiá, araçá, uvaia, cereja-do-rio-grande, etc.), pêssego, maçã, amora-preta, mirtilo, oliveiras, batata, leite e arroz, bem como a estabilidade dos compostos funcionais nestes produtos.

A Embrapa Clima Temperado foi criada em 1993, através da fusão de dois centros da Embrapa, passando a atuar como uma unidade ecorregional. A partir dessa união, a missão da unidade passou a ser focada na sustentabilidade da agricultura para região de clima temperado, em benefício da sociedade.

O conhecimento sobre os recursos naturais e o planejamento ambiental para adequado uso dos mesmos se torna área fundamental nesse contexto, buscando definir usos agrícolas que proporcionem ganhos produtivos e menores impactos ambientais. Para tanto foi criado, na unidade, o laboratório de planejamento ambiental, o qual começou a desenvolver e apoiar pesquisas, utilizando geotecnologias como suporte à ocupação do espaço, sob o ponto de vista de sustentabilidade de recursos de água e solos.

Com a agregação de competências de diferentes áreas, a área de planejamento ambiental foi ampliada, propiciando atuar em áreas de avaliação de qualidade ambiental, processos ecológicos, modelagem ambiental e ecologia de paisagem e ecossistemas.

A área de planejamento ambiental é transversal dentro da unidade, havendo a necessidade de atuação conjunta com várias áreas do conhecimento, como a de agrobiodiversidade, agroclimatologia, integração lavoura-pecuária, sistemas agroflorestais, agroecologia, entre outras.

Os trabalhos desenvolvidos têm buscado caracterizar e monitorar os ecossistemas terrestres e aquáticos da região de clima subtropical e temperado, principalmente no Bioma Pampa. Caracterizações das atividades antrópicas e suas consequências no meio natural têm sido estudadas, com a finalidade de propor inovações que levem à adequação de práticas e consequente diminuição nos impactos gerados pelas atividades antrópicas.

Atualmente são desenvolvidas pesquisas nas linhas de:

  • Zoneamentos edafoclimáticos e ecológicos econômicos, que prevêem a definição de áreas mais favoráveis ao desenvolvimento de diferentes atividades, levando em conta a capacidade do meio em suportar essas atividades de maneira sustentável.
  • Modelagem ambiental e ecologia de paisagem que simula, através de diferentes cenários, a evolução dos processos desempenhados em diferentes ambientes, auxiliando na tomada de decisão e proposição de políticas públicas.
  • Serviços ambientais onde são identificados processos e funções ecológicas que são desempenhadas em diferentes ecossistemas, buscando valorizar produtos oriundos de locais onde práticas mais adequadas à manutenção dessas funções são realizadas.
  • Indicadores de sustentabilidade de agroecossistemas que visam, através da definição de indicadores biológicos, físicos ou químicos, bem como análises emergéticas, caracterizar e monitorar ambientes a fim de acompanhar os impactos gerados pelas atividades antrópicas, propondo intervenções e acompanhando as melhorias obtidas.