Yanomami visitam campos de hortaliças da Embrapa para resgate de materiais tradicionais
Yanomami visitam campos de hortaliças da Embrapa para resgate de materiais tradicionais
Jovens lideranças do povo indígena Yanomami do estado de Roraima visitaram os bancos de conservação de mudas e sementes de abóbora, batata-doce e hortaliças tradicionais – também conhecidas como plantas alimentícias não convencionais (PANC) – nos campos experimentais da Embrapa Hortaliças, em Brasília/DF, na última quinta-feira (13). O propósito da visita foi resgatar materiais que possam ser cultivados no território indígena para melhoria da segurança alimentar e nutricional das comunidades.
Nos campos de batata-doce, eles conheceram variedades de polpa colorida com compostos antioxidantes que beneficiam a saúde. “As batatas-doces de polpa alaranjada e amarela são ricas em carotenoides, pigmentos que fazem bem para a saúde dos olhos e da pele, e as variedade de polpa roxa possuem antocianinas, aliadas na prevenção de doenças cardiovasculares”, explica a pesquisadora Larissa Vendrame, que passou a mensagem de que as batatas-doces podem ajudá-los a ficar com a visão aguçada e o coração forte. Para o jovem Michel Xirixana, a visita é uma chance de aprender junto com a Embrapa e conhecer várias plantas que na comunidade não tem, já que a variedade mais comumente plantada e consumida por eles é a batata-doce de polpa creme.
Na visita à câmara de conservação de sementes de abóboras e morangas, o grupo conversou sobre a versatilidade no consumo dessas espécies. O pesquisador Geovani Amaro deu ênfase às diferentes partes da planta que podem ser consumidas, além da polpa verde ou madura, como brotos, flores e sementes. Ele também explicou que as folhas podem ser consumidas do mesmo modo que os indígenas comem a taioba.
“Nossos povos originários foram muito hábeis em conservar a variabilidade das abóboras e, por isso, nos dias atuais temos frutos de diversos formatos e cores”, atesta. Ele também ressalta que é preciso muita sabedoria para manter a variabilidade de espécies nativas e guardar sementes sem ocorrer misturas e perdas de variedades antigas.
Manter a roça forte e resgatar as “hortaliças dos antigos” foi uma orientação muito presente nas conversas ao longo da visita. Há muita pressão nos territórios da Terra Indígena Yanomami, seja por problemas de saúde como malária e anemia, ou por contaminação das águas com mercúrio. O pesquisador Nuno Madeira contextualiza que atividades como caça, pesca e coleta ficam muito comprometidas e, por isso, é importante melhorar os cultivos. “A roça tem um papel fundamental para a segurança alimentar, com foco na cultura regional para melhorar a alimentação das comunidades e também preservar o modo de vida dos povos originários”, opina.
Nesse aspecto, muitas plantas extrapolam a questão nutricional, pois têm associação com crenças e valores do povo indígena. É o caso da araruta, um exemplo de hortaliça que despertou o interesse de Semoni Yanomami, especialmente pelo seu uso cultural como uma planta protetora. Na comunidade, a araruta é cultivada e manuseada somente por mulheres, e ela conta que, além de ajudar com cólicas de bebês, a planta é utilizada para proteção. “Caminha primeiro para longe e coloca a araruta para dar medo nos inimigos que vão para longe de novo. Se a mulher vai dormir sozinha, você mastiga ou rala a araruta e joga ao redor para dormir sem o inimigo se aproximar”, relata.
Veja aqui o vídeo com o relato de Semoni Yanomami sobre o uso dado à araruta.
Para o pesquisador Nuno Madeira, encontros assim são uma oportunidade de conhecer a experiência dos povos tradicionais - sejam indígenas, quilombolas ou ribeirinhos, e as diferentes formas de se fazer agricultura. “Transmitir nossos conhecimentos e práticas agrícolas para diferentes povos também é parte de nossa missão como instituição de natureza pública que atua em benefício de toda a sociedade brasileira”, pontua.
A pesquisadora Terezinha Dias, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, endossa a importância dos diálogos interculturais. “O encontro fortalece o diagnóstico e a reflexão participativa sobre a situação da agricultura indígena e das ameaças a manutenção das práticas e a conservação das sementes tradicionais, contribuindo assim para fortalecer o orgulho da herança cultural dos agricultores indígenas relacionado a serem guardiões da biodiversidade”, conclui.
Diálogos com Povos Indígenas
O encontro faz parte da 10ª edição dos “Diálogos Agroecológicos com Povos Indígenas: conservação, uso de recursos genéticos e segurança alimentar e nutricional”, iniciativa que há mais de vinte anos vem viabilizando a visita de diferentes etnias indígenas – Krahô, Canela, Apinajé, Kayapo, Pareci e Xavante e povos do Parque do Tumukumaque – aos campos experimentais e bancos de recursos genéticos da Embrapa para intercâmbio de conhecimentos entre povos indígenas e pesquisadores.
Este ano, o encontro contemplou três etnias – Sanoma, Yanomami e Xirixana – e aconteceu em Brasília, de 11 a 15 de março de 2025, viabilizado por um Termo de Execução Descentralizada entre Embrapa Roraima e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que reforça o compromisso com práticas agrícolas tradicionais e a proteção da biodiversidade. Também participaram técnicos de instituições parceiras como Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças
Press inquiries
hortalicas.imprensa@embrapa.br
Phone number: (61) 3385.9109
Further information on the topic
Citizen Attention Service (SAC)
www.embrapa.br/contact-us/sac/