Cadeias Produtivas

Nos estados do sul do Brasil (RS, SC e PR) está localizada a principal região produtora de arroz, com cerca de 75% do total produzido no país (13,5 mil toneladas). O Rio Grande do Sul (RS) é o maior produtor nacional, representando mais de 65% do arroz colhido no país. A média do rendimento de grãos de arroz irrigado no estado do RS é de aproximadamente 7,5 t/ha, bem acima da média brasileira que é de 4.5 t/ha.

Este cenário demonstra claramente o papel de destaque exercido pelo arroz produzido no RS para a agricultura brasileira. A região compreende, em sua totalidade, a área de abrangência de mandato da Embrapa Clima Temperado, o que justifica a sua intensa e histórica atuação de pesquisa e desenvolvimento com a cultura do arroz irrigado. Em 1949, o Ministério da Agricultura, estabeleceu no Estado, o seu primeiro programa de pesquisa em melhoramento de arroz irrigado, através do Instituto Agronômico do Sul (IAS) - atual Embrapa Clima Temperado. No início da década de 70, o 1º Programa Nacional de Pesquisa de Arroz em âmbito nacional, (Programa Funtec 158), foi coordenado pelo então denominado na época IPEAS, o qual foi transformado em Centro de Pesquisa Agropecuária de Terras Baixas (CPATB) na criação da Embrapa.

No final da década de 70, o lançamento das variedades BR IRGA 409 e 410, em parceria com o IRGA, contribuíram para dobrar a produtividade do arroz no RS. A adoção de cultivares de porte moderno com alta capacidade de emitir perfilhos, colmos robustos e curtos, e folhas eretas constituíram um marco na orizicultura nacional, sendo reportado como a Revolução Verde da cultura. Desta data em diante, mais de 20 cultivares de arroz irrigado foram lançadas e recomendadas para cultivo no RS.

 A evolução positiva da produtividade no Rio Grande do Sul atribui-se ao desenvolvimento e recomendação de novas cultivares, que atendem às exigências de mercado e apresentam alta produtividade; boa qualidade de grão; estabilidade de produção, melhor reação aos estresses bióticos (doenças - brusone) e abióticos (toxidez por ferro, salinidade e frio); resistência às principais pragas e doenças, e adaptação às condições edafoclimáticas predominantes em cada região de cultivo, bem como a melhoria do manejo da cultura, em função da pesquisa séria e competente estabelecida.

As elevadas produtividades (acima de 10 t/ha) são consequência de novas constituições genéticas e do manejo adequado da cultura, baseado no manejo racional da cultura do arroz (Projeto Marca) o qual privilegia o uso racional de insumos agrícolas. Outro fator de contribuição das pesquisas da Embrapa é a ênfase no lançamento de cultivares de ciclo precoce, tais como BRS Atalanta, BRS Querência e BRS Pampa, que permitem menor uso de água de irrigação, quando comparadas a cultivares de ciclo médio existentes no mercado, levando a sustentabilidade no uso deste recurso. As cultivares também possuem melhor resistência às principais doenças do arroz que, em princípio, minimizam o uso de fungicidas nas lavouras. Estes atributos resultam em menor impacto ambiental e na saúde humana, além de reduzir custos de produção.

Dentre inúmeras ações e projetos de pesquisa, a Embrapa Clima Temperado tem prospectado mercados específicos para tipos especiais de arroz, buscando a diversificação do seu uso como as ações realizadas, visando desenvolver genótipos para uso na alimentação animal e produção de etanol.

 A Embrapa Clima Temperado conta com um quadro qualificado de pesquisadores na área de arroz irrigado, envolvendo distintas áreas de atuação como melhoramento genético, biotecnologia, fitopatologia, herbologia, entomologia, sócioeconomia, irrigação e drenagem, fertilidade do solo, fitotecnia, fisiologia de sementes, climatologia, agricultura de precisão, manejo e conservação do solo, rotação de culturas, mecanização, monitoramento ambiental, entre outras.

Na programação de pesquisa encontram-se projetos de manejo integrado de pragas, produção integrada de arroz (PIA), melhoramento genético, estudos de emissão de gases de efeito estufa, manejo racional da cultura do arroz (MARCA), fixação biológica do nitrogênio (FBN), estudo de graus dias na determinação de estádios fenológicos do arroz, irrigação por aspersão, manejo da água, identificação geográfica do arroz cachinho, entre outras.

As pesquisas com fruticultura na região de Pelotas tiveram início com a criação da Estação Experimental de Viticultura, Enologia e Frutas de Clima Temperado, em 13 de janeiro de 1938, encarregada de realizar os serviços públicos relativos à produção, melhoramento e defesa da viticultura e frutas de clima temperado do Estado do Rio Grande do Sul. Após passar por diferentes denominações, foi transformada na Estação Experimental Cascata, uma das bases físicas da Embrapa Clima Temperado. Atualmente, os trabalhos com a fruticultura são desenvolvidos nesta Estação Experimental e na Sede da Embrapa Clima Temperado.

Na área de fruticultura, a Embrapa Clima Temperado tem-se destacado pela condução dos trabalhos com melhoramento de frutas de caroço, tendo disponibilizado mais de 40 cultivares de pessegueiro, ameixeira e nectarineira e desenvolvido cultivares não só para plantios na região de clima temperado, mas também para regiões com baixa exigência em frio, como BRS Fascínio e BRS Regalo, mais recentemente. Além disso, há diversas parcerias internacionais onde as cultivares Embrapa estão em teste, como Espanha, Marrocos e Egito.


O programa de melhoramento de pequenas frutas lançou diversas cultivares de amoreira-preta, como Negrita, Ébano, Guarani, Caingangue e Xavante. Dentre estas, a cultivar Tupy foi a que obteve maior impacto na cadeia produtiva, sendo, atualmente, a cultivar mais plantada em diversos países, a exemplo do México.

Em relação às frutas nativas, destacam-se os trabalhos realizados com espécies como pitanga e araçá. Com esta última, foram lançadas as cultivares Ya-Ci e Irapuã.

O programa de pesquisa com cítricos, especialmente para mesa, tem indicado e disponibilizado diversas cultivares em parcerias com outras instituições, como é o caso da BRS Rainha, cultivar de tangerina, e o BRS Sandupay, híbrido de citros com características de tangerina.

Morango é outra fruta trabalhada no programa de melhoramento genético da Embrapa Clima Temperado. Dentro de poucos anos serão disponibilizadas cultivares mais produtivas, de boa qualidade e adaptadas às condições de clima e de solo da região de clima temperado.

Além do melhoramento genético, diversos trabalhos para a adaptação de cultivares de pereira, videira, mirtilo, morango, citros, goiabeira, framboesa, maracujazeiro-azedo, abacateiro, physalis, oliveira, caquizeiro e frutas nativas são desenvolvidos na Embrapa Clima Temperado.

Trabalhos desenvolvidos nas áreas de fitotecnia, propagação in vitro, fitossanidade, sócioeconomia, pós-colheita, processamento e alimentos funcionais têm sido alvo da pesquisa a fim de gerar informações importantes para o desenvolvimento de toda a cadeia frutícola.

Ações desta natureza têm feito da Embrapa Clima Temperado uma referência na geração de tecnologias para a fruticultura desta região.

Para a realização desses trabalhos, a Embrapa Clima Temperado conta com uma equipe de mais de 20 pesquisadores, alguns com dedicação exclusiva à área e outros com dedicação parcial, além de diversos assistentes e analistas.

As pesquisas com culturas produtoras de grãos na região de Pelotas iniciaram há mais de 70 anos, estruturando-se quando da fundação do Instituto Agronômico do Sul (IAS), junto à Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, no atual município de Capão do Leão. Durante este tempo, a instituição passou por várias denominações (IPEAS, UEPAE), chegando a constituir-se no Centro de Pesquisa Agropecuária de Terras Baixas de Clima Temperado (CPATB), em 1985. Atualmente a Estação Experimental Terras Baixas (ETB) é uma das três bases físicas da Embrapa Clima Temperado e é onde se realizam a maior parte das pesquisas com culturas voltadas à produção de grãos.

O arroz irrigado, cultura historicamente dominante na Metade Sul do Rio Grande do Sul, tem destaque nas pesquisas voltadas ao ambiente de terras baixas. Com mais de 20 cultivares lançadas nas últimas décadas, os materiais da Embrapa tem se evidenciado no cenário produtivo do sul do Brasil. Cultivares como BR-IRGA 409, BRS 7-Taim, BRS Atalanta e BRS Querência são referência por sua qualidade de grãos, alta produtividade, precocidade e rusticidade, respectivamente, enquanto a mais nova cultivar de arroz - BRS Pampa - oferece boa combinação de alta qualidade de grãos, precocidade, tolerância às doenças e alta produtividade. Além da criação de cultivares, os trabalhos com arroz envolvem áreas distintas como manejo de pragas, qualidade de sementes, ajustes no sistema de rotação de culturas e racionalização no uso de insumos (incluindo a água), para o estabelecimento de uma agricultura mais sustentável e de menor risco ao produtor, ao consumidor e ao ambiente.

Além do arroz, outras culturas também são foco de pesquisas visando à diversificação da matriz produtiva de grãos regional. No cultivo de soja, por exemplo, a variedade IAS-5, selecionada no IAS, teve grande importância ao setor produtivo nos anos 70, 80 e 90, sendo a mais cultivada do sul do Brasil por praticamente 30 anos. As pesquisas com esta cultura objetivam a identificação de cultivares adaptadas às terras baixas, o manejo integrado de pragas, a fixação biológica de nitrogênio e o aprimoramento de técnicas de cultivo para a condição específica regional. Já as pesquisas com a cultura do milho se concentram em estudos sobre manejo de insetos-praga e na adaptação de métodos de manejo do solo para o seu cultivo em áreas de terras baixas.

Alguns temas relacionados à produção de grãos pesquisados na Embrapa Clima Temperado abrangem mais de uma cultura. Podem ser citados, por exemplo, os estudos sobre a irrigação por aspersão para arroz, pastagens e culturas de sequeiro; o desenvolvimento de técnicas otimizadas de manejo do solo que substituem a aração e gradagem em solos hidromórficos; o cultivo em camalhões de base larga, que propiciam implantar o plantio direto pleno em terras baixas; e as técnicas de integração lavoura-pecuária com lotação ajustada, que favorecem a conservação do solo e proporciona bons ganhos à produção animal.

Também podem ser ressaltados os trabalhos sobre o uso de informações climatológicas para definir as épocas de melhor resposta à aplicação de nutrientes em arroz; os estudos sobre a relação de práticas de cultivo agrícola e a emissão de gases de efeito estufa; pesquisas sobre indicadores de eficiência e sustentabilidade dos sistemas de produção; além dos testes de valor de cultivo e uso (VCU), realizados anualmente com cultivares de arroz, soja, milho, sorgo e feijão, executados em parceria com outras instituições. Na cultura do trigo, os trabalhos realizados na Embrapa Clima Temperado focam no melhoramento genético, sendo aqui executada parte importante da geração de linhagens, que serão introduzidas nos programas de melhoramento da Embrapa Trigo.

A cultura do feijão, por sua vez, tem sido trabalhada de modo diferenciado em relação às demais culturas. Dirigidas essencialmente a produtores familiares, que constituem o segmento de maior expressão na produção deste importante alimento, as ações são focadas não apenas no melhoramento tradicional, mas incorporam atividades de melhoramento participativo, no qual a percepção dos produtores tem peso significativo nos resultados da pesquisa e na identificação das cultivares. Dentre as diversas cultivares de feijão disponibilizadas por este centro, que se encontram em cultivo, destacam-se BR-Ipagro 1 Macanudo, BR-Ipagro 3 Minuano, BR-Ipagro 35 Macotaço, BR-Fepagro 35 Guapo Brilhante, BRS Valente, BRS Campeiro e BRS Expedito, esta última com alto teor de proteínas, cálcio, fósforo, potássio e zinco.

As atividades de pesquisa com hortaliças na Embrapa Clima Temperado iniciaram, em 1938, com a estruturação da Estação Experimental de Viticultura, Enologia e Frutas de Clima Temperado localizada no Distrito da Cascata, em Pelotas, RS, hoje denominada Estação Experimental Cascata. Inicialmente o objetivo principal era a produção de mudas e sementes de hortaliças com melhor adaptação à região. Ao longo dos anos várias espécies foram estudadas. Entre elas estão abóbora, alho, aspargo, batata, batata-doce, cebola, ervilha, pimenta, pepino e tomate. Várias cultivares foram lançadas, com destaque para a cultivar de batata Baronesa, em 1955, que por muitos anos ocupou mais de 80% da área plantada no Estado do Rio Grande do Sul e para a cultivar de cebola Primavera lançada em 1992 e até hoje cultivada.

Nos últimos anos vêm sendo desenvolvidas cultivares de batata, cebola e batata-doce. Em batata foram lançadas as cultivares BRS Eliza, em 2002, para consumo de mesa com película lisa, resistência a doenças foliares e menos dependente de fungicidas e fertilizantes; BRS Ana, em 2007, de duplo propósito, tanto para o consumo de mesa como para o processamento na forma de palitos, menos exigente em fertilizantes e mais tolerante à seca; BRS Clara, em 2010, para consumo de mesa, com resistência à requeima, menos exigente em fertilizantes e mais tolerante à seca e BRSIPR Bel, em 2012, para processamento na forma de chips e batata palha, com alta produtividade, boa aparência de tubérculo e boa tolerância ao calor, apresentando baixa incidência de desordens fisiológicas. Em cebola foi lançada a cultivar BRS Cascata, em 2002, com bulbos de coloração pinhão-bronzeada e de excelente retenção de escamas. Em batata-doce foram lançadas três cultivares em 2011, BRS Amélia, com destaque como fonte de carotenóides (biofortificada); BRS Cuia, altamente produtiva, e a BRS Rubissol, muito atrativa devido à cor púrpura da casca e produtividade.



As pesquisas em andamento têm sido voltadas para o desenvolvimento de cultivares de hortaliças resistentes às principais pragas e doenças e a estresses abióticos (seca e calor), incluindo propriedades funcionais, tanto para o cultivo convencional como o de base ecológica. Estão envolvidos pesquisadores atuando nas áreas de recursos genéticos e melhoramento, biologia molecular, fitopatologia, entomologia, agrometeorologia, fitotecnia, sistemas de produção de base ecológica, fisiologia vegetal, pós-colheita e tecnologia de alimentos.

A Embrapa Clima Temperado estruturou um Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento em Pecuária Leiteira (Sispel) que vem atuando, desde 1995, na realização de pesquisas, capacitação de recursos humanos e transferência de tecnologias, visando o fortalecimento da atividade leiteira na região de clima temperado.

O Sispel possui um rebanho leiteiro da raça Jersey, com cerca de 200 fêmeas, distribuídas em duas estruturas físicas, uma para recria dos animais (Certon) e um centro de pesquisa em leite (Cepel), além de laboratórios (Nutrição, Reprodução e Qualidade do Leite) que dão suporte para as ações desenvolvidas por uma equipe técnica multidisciplinar, composta por nove pesquisadores, cinco analistas e dez assistentes.

As linhas desenvolvidas pela equipe incluem: gestão da unidade de produção, desenvolvimento de cultivares forrageiras (BRS Ponteio, BRS Resteveiro), manejo de forrageiras e pastagens, nutrição animal, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), tecnologias de reprodução assistida, qualidade do leite e leite instável não ácido (LINA).