37 Gramática
37 Gramática
As regras gramaticais discutidas nesta seção incluem o uso de pontuação, regência verbal, concordância verbal, concordância nominal, emprego correto de expressões e construções redundantes.
37.1 Pontuação
Os sinais de pontuação, cujos usos serão detalhados a seguir, podem ser divididos em:
- Sinal gráfico que indica o término do discurso: ponto.
- Sinais gráficos que indicam período não concluído, sem quebra na continuidade do discurso: vírgula; ponto e vírgula; dois-pontos; travessão; barra; parênteses; e colchetes.
37.1.1 Ponto
Usa-se ponto para as seguintes situações:
- Encerrar as abreviaturas.
Exemplos:
Cia. (companhia)
jul. (julho)
Ltda. (limitada)
pág. (página)
prof. (professor)
séc. (século)
Se a abreviatura estiver no fim do período, coloca-se apenas um ponto.
Exemplo:
As árvores temáticas apresentam informações sobre biodiversidade, solo, vegetação, etc.
- Encerrar frase, oração ou período declarativo (período simples ou composto).
Exemplos:
Sim.
Esperavam a chegada da comitiva.
A diretoria reuniu-se em sessão extraordinária.
As conclusões a que chegaram serão publicadas no próximo boletim.
- Encerrar os itens de uma enumeração iniciada em nova linha, desde que cada item inicie em maiúscula (ver seção 30.2.2).
Exemplo 1:
Para a análise dos trabalhos, serão levados em conta os seguintes critérios:
- Atualidade do tema.
- Inovação e criatividade.
- Impacto social e ambiental.
- Contribuição para o desenvolvimento sustentável.
Exemplo 2:
O produtor de sementes ou mudas deve:
- Respeitar as normas e os padrões estabelecidos para cada espécie ou grupo de espécies florestais.
- Respeitar a legislação ambiental no que se refere à coleta de sementes, de material de propagação vegetativa ou de mudas de espécies florestais.
- Garantir que todo o processo de produção esteja sob supervisão de responsável(is) técnico(s) .
37.1.2 Vírgula
37.1.2.1 Quando usar vírgula
Usa-se vírgula para as seguintes situações:
- Isolar vocativos e apostos.
Exemplos:
Não percam, caros ouvintes, a entrevista sobre cultivo de feijão que vai ao ar logo mais.
Brasília, a capital da República, foi inaugurada em 1960.
Observação: De maneira geral, o aposto é isolado por vírgulas, à exceção do aposto chamado de especificativo, que serve para restringir, especificar ou individualizar um termo genérico. Observe, nos exemplos abaixo, a diferença entre aposto explicativo e aposto especificativo.
Exemplo 1:
Dedicou a obra à sua filha, Fulana de Tal. [Aposto explicativo: o autor da frase tem apenas uma filha.]
Dedicou a obra à sua filha Fulana de Tal. [Aposto especificativo: o autor da frase tem mais de uma filha.]
Exemplo 2:
O atual presidente da República, Fulano de Tal, está em seu segundo mandato. [Aposto explicativo: há apenas um ocupante do cargo no momento atual.]
O ex-presidente da República Sicrano de Souza faleceu em 24 de dezembro de 1999. [Aposto especificativo: há mais de um ex-presidente.]
- Isolar expressões de caráter explicativo ou corretivo.
Exemplos:
O minimilho é colhido antes da polinização, isto é, antes da formação dos grãos.
Entre os elementos que compõem o leite, a lactose é um dos mais estáveis, ou melhor, menos sujeitos a variações.
- Isolar as expressões do tipo “por exemplo”, “entre outros” e similares, independentemente de estarem no começo, no meio ou no fim da oração.
Exemplos:
Várias atividades agrícolas, por exemplo, a colheita mecanizada de cacau e cupuaçu, são desafios bastante complexos para os agricultores da região.
Para o bom desenvolvimento das plantas, é necessária a execução de diversos tratos culturais, como desbaste de plantas, controle de plantas invasoras, adubação de cobertura, polinização, entre outros.
- Isolar os adjuntos adverbiais antepostos ou intercalados.
Exemplos:
Naquele dia, algumas palestras foram realizadas.
Algumas palestras, naquele dia, foram realizadas.
Observação: Dispensa-se a vírgula se o adjunto adverbial for de pequena extensão ou um simples advérbio, a não ser que se queira reforçá-lo.
Exemplos:
Ontem os pesquisadores atenderam aos visitantes.
Os pesquisadores pacientemente atenderam aos visitantes.
- Isolar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à oração principal ou intercaladas.
Exemplos:
Apesar dos impactos causados pela pandemia da covid-19, as exportações do agronegócio brasileiro não foram afetadas negativamente.
O deputado, enquanto discursava, recebia aplausos dos colegas.
- Isolar o nome de lugar quando acompanhado da indicação de data.
Exemplo:
Brasília, 9 de julho de 2015.
- Separar termos coordenados assindéticos, isto é, termos com a mesma função dentro da oração e não ligados por conjunção.
Exemplo:
Aquela paisagem lhes despertava confiança, tranquilidade, calma.
- Separar as orações coordenadas assindéticas.
Exemplo:
Os visitantes chegam, olham, perguntam e prosseguem.
- Separar as orações coordenadas sindéticas, exceto as introduzidas pela conjunção ”e” (ver Observação 3 a seguir).
Exemplo:
Eles se esforçaram muito, mas não obtiveram o resultado desejado.
Observação 1: Quando intercaladas, as conjunções coordenativas devem ser separadas por vírgula.
Exemplo:
A tecnologia, no entanto, não teria sido suficiente sem a atuação do produtor.
Observação 2: A conjunção coordenativa “pois” merece comentário à parte. Dependendo de seu valor (conclusivo ou explicativo), pode vir posposta ou anteposta a algum termo da oração a que pertence.
Quando estiver posposta, é conclusiva, equivalente a “portanto”. Deve, então, estar entre vírgulas.
Exemplo:
O livro foi publicado; está a equipe, pois, de parabéns.
Quando anteposta, é explicativa, equivalente a “porquanto”, “porque”, “visto que”.
Exemplo:
A equipe está de parabéns, pois publicou o livro.
Observação 3: As orações coordenadas unidas pela conjunção “e” não são separadas por vírgulas. No entanto, há exceções. Caso os sujeitos sejam diferentes, geralmente usa-se vírgula.
Exemplos:
O resultado foi excelente e surpreendeu os pesquisadores. [O sujeito é o mesmo para ambos os verbos.]
O livro foi enviado para a gráfica, e o encarregado viu que faltavam páginas. [Os sujeitos são diferentes para cada verbo.]
Caso as orações coordenadas estejam unidas pela conjunção “e” reiterada, deve-se usar vírgula.
Exemplo:
Os autores leram o material original, e conferiram as correções , e aprovaram a diagramação, e assinaram o contrato antes que o livro fosse enviado à gráfica para impressão.
- Separar orações iniciadas com conjunções alternativas (“ou... ou”, “ora... ora”, “quer... quer”).
Exemplos:
Ou estuda, ou trabalha.
Quer no campo, quer na cidade, os grandes avanços provocaram consideráveis mudanças nas áreas de produção e na organização social.
- Separar o nome de uma cidade da sigla do respectivo estado ou do nome do país a que pertence (nesses casos, não usar parênteses ou barra).
Exemplos:
O evento será em Campina Grande, PB.
Cinco pesquisadores fizeram curso de doutorado em Montpellier, França.
Algumas situações particulares de uso da vírgula se aplicam:
- Emprega-se a vírgula antes de “etc.” nas publicações da Embrapa.
Exemplo:
As ilustrações do livro apresentam informações sobre biodiversidade, solo, vegetação , etc.
- Pode-se omitir, a partir da segunda ocorrência, um mesmo termo (geralmente, o verbo) em orações sucessivas para evitar repetição. Nessas situações, pode-se usar a vírgula para indicar a supressão.
Exemplos:
O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção mundial de frutas; a China, o primeiro.
A primeira equipe foi capacitada para trabalhar na lavoura; a segunda, no beneficiamento.
Observação: Antes de empregar essa vírgula, observe a pontuação dos demais elementos do período.
Se o período já estiver marcado com outras vírgulas, usa-se ponto e vírgula para separar as orações e vírgula para indicar a supressão.
Exemplos:
Em 2020, a Empresa contava com 1.500 pesquisadores, dos quais 52% tinham somente graduação, 38%, mestrado, 10%, doutorado. ERRADO
Em 2020, a Empresa contava com 1.500 pesquisadores, dos quais 52% tinham somente graduação; 38%, mestrado; 10%, doutorado. CERTO
Se, ao contrário, o período não estiver marcado por outras vírgulas, pode-se usar vírgula para separar as orações do período. Nesse caso, não se deve usar a vírgula indicativa da supressão (para evitar ambiguidades).
Exemplos:
Nesse projeto, o bolsista ficou responsável pelo levantamento bibliográfico, o analista, pela tabulação dos dados, o pesquisador, pela análise e redação de artigos. ERRADO
Nesse projeto, o bolsista ficou responsável pelo levantamento bibliográfico, o analista pela tabulação dos dados, o pesquisador pela análise e redação de artigos. CERTO
- Separam-se sempre por vírgulas as orações subordinadas adjetivas explicativas.
As orações subordinadas adjetivas desenvolvidas, que são sempre iniciadas por um pronome relativo, classificam-se em explicativas (que têm a função de aposto explicativo) e restritivas (que têm a função de adjunto adnominal).
Exemplos:
A Embrapa, que é vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, foi criada em 26 de abril de 1973.
O Brasil, que é o maior país da América do Sul, ganhou posições importantes no mercado internacional, tanto na produção quanto na exportação agropecuária.
Os animais, cujas gaiolas estão sempre bem limpas, foram tratados com homeopatia.
A cidade de São Paulo, onde moram mais de 12 milhões de pessoas, tem importância estratégica para a economia do País.
Observação: As orações adjetivas explicativas e restritivas diferem entre si quanto ao significado. A presença ou ausência da vírgula é que determina o sentido da frase.
Exemplo 1:
Os trabalhadores que são eficientes receberão gratificação. [Oração adjetiva restritiva; nesse caso, somente os que são eficientes receberão gratificação.]
Os trabalhadores, que são eficientes, receberão gratificação. [Oração adjetiva explicativa; nesse caso, todos os trabalhadores são eficientes e todos ganharão gratificação.]
Exemplo 2:
As plantas que receberam o tratamento apresentavam menor número de lesões. [Oração adjetiva restritiva; nesse caso, somente algumas plantas receberam o tratamento, e somente as que receberam o tratamento apresentavam menor número de lesões.]
As plantas, que receberam o tratamento, apresentavam menor número de lesões. [Oração adjetiva explicativa; nesse caso, todas as plantas receberam o tratamento e todas apresentavam menor número de lesões.]
37.1.2.2 Quando não usar vírgula
Não se usa vírgula para as seguintes situações:
- Separar o sujeito do predicado.
Exemplo 1:
Somente os sócios presentes, teriam direito a voto. ERRADO
Somente os sócios presentes teriam direito a voto. CERTO
Exemplo 2:
O calendário de semeadura e a sequência de culturas em cada talhão da horta e/ou canteiro, precisam ser bem compreendidos. ERRADO
O calendário de semeadura e a sequência de culturas em cada talhão da horta e/ou canteiro precisam ser bem compreendidos. CERTO
- Separar a oração principal da oração subordinada substantiva.
Exemplos:
O estudo observou, que o sistema produtivo utilizado havia apresentado bons resultados. ERRADO
O estudo observou que o sistema produtivo utilizado havia apresentado bons resultados. CERTO
37.1.3 Ponto e vírgula
Usa-se ponto e vírgula para as seguintes situações:
- Separar orações coordenadas de certa extensão ou que já venham marcadas no seu interior por vírgula ou por travessão.
Exemplo 1:
Ao comparar as raízes primárias de milho e de sorgo, observou-se que ambas as culturas apresentam basicamente a mesma quantidade de massa radicular; porém, as raízes secundárias do sorgo são, no mínimo, o dobro daquelas encontradas no milho.
Exemplo 2:
O primeiro perfilho — aquele que cresce a partir da gema — recebe a denominação de primário; os que se originam do primário são os perfilhos secundários; e os que se originam desses são terciários; e assim por diante.
Exemplo 3:
As chuvas na região foram irregulares no ano passado; as culturas, porém, permaneceram produtivas.
- Separar itens de uma enumeração em linha contínua (ver seção 30.1).
Exemplo 1:
A escolha do espaçamento é baseada em alguns critérios fundamentais, que são: a) propósito da plantação; b) circunstâncias favoráveis para a poda e o desbaste; c) espécie a ser plantada; d) fertilidade do solo; e) possibilidade de mecanização das operações.
Exemplo 2:
As designações para cada estágio são cana-planta, no primeiro corte; soca, no segundo; e ressoca, nos demais cortes até a última colheita.
- Separar itens de uma enumeração iniciada em nova linha (exceto o último, que será finalizado com ponto), desde que cada item inicie em minúscula (ver seção 30.2.2).
Exemplo:
Para a análise dos trabalhos, serão levados em conta os seguintes critérios:
- atualidade do tema;
- inovação e criatividade;
- impacto social e ambiental;
- contribuição para o desenvolvimento sustentável.
37.1.4 Dois-pontos
Usam-se dois-pontos para as seguintes situações:
- Apresentar uma citação.
Exemplo 1:
Com o objetivo de verificar os efeitos da extirpação da gema apical e da remoção periódica de botões florais em algodoeiro herbáceo, Fictício et al. (2003, p. 105) chegaram à seguinte conclusão:
[...] a eliminação de gema apical aos 50 dias da emergência das plantas não afeta a produtividade da cultura, porém, em ano com irregularidade de chuvas, pode aumentar a precocidade e, independentemente das condições de cultivo, reduzir a altura das plantas.
Exemplo 2:
Em 1947, ele publicou estudo do sistema radicular de Tephrosia candida D.C., no qual destaca que:
Seria de grande interesse conhecer a profundidade máxima das raízes de tefrósia, pois estas, translocando alimentos, deixam-nos, em boa parte, à superfície do solo. Seria de valor determinar o pêso aproximado de todo sistema radicular, pois, morta a planta, as raízes são deixadas como matéria orgânica no solo (Inforzato, 1947a, p. 49).
- Introduzir o desdobramento (enumeração, esclarecimento, consequência) de uma ideia anterior.
Exemplos:
[Enumeração] Todos os aspectos devem ser considerados: sociais, culturais e econômicos.
[Esclarecimento/Explicação] A expectativa dos diretores era a seguinte: atingir as metas estabelecidas pelo ministro.
[Consequência] As consequências das atividades antrópicas sobre os recursos não poderiam ser mais desastrosas: significativas mudanças na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas terrestres e aquáticos.
- Introduzir uma síntese do que foi anunciado.
Exemplo:
Conquistou tudo o que mais desejava: sua realização profissional.
- Introduzir discurso direto após verbo dicendi ("dizer”, “perguntar”, “responder”, etc.).
Exemplo:
Então, disse o palestrante:
— Todos devem trabalhar em prol de um objetivo comum.
- Separar termos apelativos, como “Observação”, “Nota”, “Fonte”, “Atenção”, “Lembrete”, “Dica”, do texto que lhes segue (iniciado em maiúscula).
Exemplos:
Observação: No caso de suspeita de peste suína clássica, o serviço veterinário oficial deve ser imediatamente notificado.
Atenção: Antes de fechar a porta, verifique se apagou as luzes.
Fonte: Adaptado de Fictício et al. (1990).
37.1.5 Travessão
Travessão é sinal constituído de traço horizontal (—), sendo mais extenso do que o hífen (-) e do que o traço de ligação ou meia-risca (–), com os quais não deve ser confundido. Para uso de traço de ligação, consultar seção 23.1.1.2 e seção 27.1.
Usa-se travessão para as seguintes situações:
- Intercalar, no período, palavra ou expressão explicativa ou complementar, em substituição a parênteses ou vírgulas.
Exemplo:
O governador do Maranhão — o estado mais afetado pela medida — falou com a imprensa ao longo da tarde.
Observação 1: Quando o encerramento do trecho intercalado coincidir com o fim da oração, usa-se travessão simples (indicando apenas o início da intercalação).
Exemplo:
À cerimônia compareceram os estudantes do ensino médio — sempre acompanhados por seus professores.
Caso contrário, usa-se travessão duplo.
Exemplo:
Os estudantes do ensino médio — sempre acompanhados por seus professores — compareceram à cerimônia.
Observação 2: Quando o uso do travessão coincidir com o da vírgula, devem-se usar ambos.
Exemplo:
Enquanto o chefe discursava — ele sempre discursa de improviso —, todos aplaudiam.
- Substituir dois-pontos.
Exemplo:
O ciclo de desenvolvimento do trigo pode ser dividido em três fases — vegetativa, reprodutiva e de enchimento de grãos.
- Distinguir, nos diálogos, a mudança de interlocutor (nesse caso, cada oração deve estar em linha própria).
Exemplo:
— De qual cidade francesa vieram os pesquisadores visitantes?
— De Montpellier, no sul do país.
37.1.6 Barra
Sinal constituído de traço oblíquo com inclinação para a direita ( / ).
Usa-se barra oblíqua para as seguintes situações:
- Separar o numerador do denominador nos números fracionários, substituindo a barra da fração.
Exemplos:
1/3 (um terço)
1/20 (um vinte avos)
- Separar números em datas (dia, mês e ano) em tabelas.
Exemplo:
Tabela 1. Lançamento de cultivares em eventos de transferência de tecnologia em fevereiro de 2022.
Cultivar Evento Local Data Número de participantes Abóbora BRS Brasileirinha Dia de Campo de Abóboras Frei Gaspar, MG 18/4/2020 270 Açaizeiro BRS Pará 5ª Feira de Negócios do Açaí Igarapé-Miri, PA 7/12/2021 330 Banana BRS Pacoua II Seminário da Cultura da Banana Mirangaba, BA 22/7/2022 450 - Indicar safra ou ano agrícola.
Exemplo:
A produção de grãos da safra 2021/2022 foi divulgada.
Atenção
Observe-se que safra ou ano agrícola é diferente de intervalo de anos (ver seção 23.1.1.2).
- Registrar unidades de medida compostas.
Exemplo:
A faixa de velocidade de trabalho de uma colhedora varia de 4 a 6 km/h.
Para averiguar as situações em que a unidade de medida composta deve ser escrita com barra ou com expoente, consultar a seção 24.1.4.
- Escrever a combinação das conjunções “e/ou” (que indica a simultaneidade entre os elementos que a antecedem e a sucedem ou sua alternância). Deve-se evitar seu abuso.
Exemplos:
Os restos culturais afetados por doenças e/ou infestações devem ser retirados logo após a poda.
A escolha da cultivar adequada é uma decisão que cabe ao produtor e/ou técnico.
37.1.7 Parênteses
Usam-se parênteses para as seguintes situações:
- Intercalar, num texto, qualquer palavra, expressão ou oração acessória, representada em geral por uma explicação, um comentário, uma reflexão ou uma observação.
Exemplo:
A mangaba (que, em tupi-guarani, quer dizer “coisa boa de comer”) é muito utilizada para preparar sucos, sorvetes e geleias.
Observação: Quando, no meio do período, o parêntese for indicativo de explicação, comentário, reflexão ou observação, o texto dentro dos parênteses inicia com letra minúscula (a menos que a primeira palavra seja um nome próprio) e termina sem pontuação; essa virá, se necessária, após o parêntese.
Exemplo:
A queda de produção de algodão na região (em razão da seca no período), milagrosamente, não atingiu a economia local.
- Incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação, página, etc.):
Exemplos:
A produção de lítio começa em Searles Lake, Califórnia, em 1928 (Munford, 1949, p. 513).
Resultado semelhante foi obtido por Santos e Vencovsky (1985).
- Citar palavra ou frase traduzida.
Exemplo:
A preservação de um modelo de agricultura familiar (family farming) depende de vontade política e implantação de políticas públicas.
- Introduzir datas de nascimento/morte.
Exemplo:
O pesquisador que faleceu precocemente (1950–1997) teve importante papel nos estudos iniciais sobre esta cultura.
- Transcrever siglas que se seguem à apresentação de sua forma por extenso, na primeira vez em que ocorrem num texto (ver seção 31.2.1).
Exemplo:
A proposta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) será avaliada na próxima semana.
- Fazer remissões a figuras e tabelas no meio do texto.
Exemplos:
A produtividade de grãos do feijoeiro aumentou significativamente após tais cuidados (Figura 2).
A relação entre a produtividade e seus componentes foi determinada no período de 3 meses (Tabela 2).
- Fechar as letras ou números usados como marcador em enumerações. Nesse caso, deve-se usar apenas um parêntese.
Exemplo 1:
As vantagens dessa cultura são:
a) fácil germinação das castanhas;
b) baixo custo;
c) alto vigor.
Exemplo 2:
Os resultados observados foram:
1) Alta variação genética entre os porta-enxertos.
2) Desuniformidade do pomar.
Para uso de parênteses em nomenclatura científica, consultar a seção 33.
37.1.8 Colchetes
Usam-se colchetes para as seguintes situações:
- Isolar uma construção internamente já separada por parênteses.
Exemplos:
Existem dois tipos de orações coordenadas: as sindéticas (ligadas por uma conjunção) e as assindéticas [ligadas por pontuação (vírgula, ponto e vírgula ou ponto)].
O caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] é uma das principais culturas da região Centro-Oeste.
Observação: Nesse uso, os colchetes podem ser substituídos por travessões duplos ou vírgulas duplas.
Exemplos:
O caupi — Vigna unguiculata (L.) Walp. — é uma das principais culturas da região Centro-Oeste.
O caupi, Vigna unguiculata (L.) Walp., é uma das principais culturas da região Centro-Oeste.
- Indicar, em citações, uma supressão de parte do texto. Nesse caso, devem-se usar reticências entre colchetes.
Exemplo:
“O solo tem como limite superior a atmosfera. Os limites laterais são os contatos com corpos d’água superficiais, rochas, gelo, áreas com coberturas de materiais detríticos inconsolidados, aterros ou terrenos sob espelhos d’água permanentes. O limite inferior [...] é difícil de ser definido” (Santos et al., 2013, p. 27).
- Indicar, em citações, a inclusão de palavras de esclarecimento ou explicação (que originalmente não fazem parte do texto citado) para facilitar o entendimento.
Exemplos:
“Os limites laterais [do solo] são os contatos com corpos d’água superficiais, rochas, gelo, áreas com coberturas de materiais detríticos inconsolidados, aterros ou terrenos sob espelhos d’água permanentes” (Santos et al., 2013, p. 27).
“Qualquer mudança deve vigir [sic] apenas a partir de 2030”.
Observação: Em textos traduzidos (ou vertidos) em que, após avaliação editorial, considere-se importante acrescentar observações ou informações complementares de autoria do tradutor, devem-se usar colchetes para isolar esses acréscimos.
Exemplo:
The project was implemented by the Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) [the governmental institution in charge of agrarian reform in Brazil] from 1985 to 2005.
37.1.9 Observação sobre pontuação de citações
Conforme já indicado na seção 29.1.1, vale repetir que, se a citação direta coincidir com o fim da frase, o ponto-final deve estar depois das segundas aspas.
Exemplos:
O pesquisador mencionou um fato importante: “A pesquisa foi realizada com recursos obtidos de instituições de fomento”.
Em Fictício et al. (1997, p. 54), afirma-se o seguinte: “A civilização chinesa foi a primeira a empregar a adubação verde visando à manutenção da fertilidade do solo”.
O presidente da República disse que envidará “todos os esforços para aumentar os investimentos na área”.
37.2 Regência verbal
A seguir, estão destacados alguns verbos e algumas de suas acepções e regências.
Para informações completas sobre todas as acepções e as respectivas regências dos verbos, consulte dicionários de língua portuguesa, particularmente os dicionários de regência verbal.
Ao fim desta seção, também constam algumas informações complementares à regência e um quadro comparativo de alguns casos de regência verbal que frequentemente implicam erro.
37.2.1 Alguns verbos
Acusar
“Acusar”, no sentido de “atribuir falta, infração ou crime (a alguém ou a si próprio)”; “culpar(-se)”, “incriminar(-se)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Ele costuma acusar vizinhos que descumprem as normas.
- Com objeto direto e indireto (preposição “de” ou “por”).
Exemplos:
Acusou o homem de maus tratos aos animais.
A vítima acusou o réu por crime de abigeato.
- Com objeto direto e predicativo (antecedido da preposição “de”).
Exemplo:
O autor acusou-o de mentiroso e retirou-se da sala.
“Acusar”, no sentido de “confessar, revelar, mencionar”, pede objeto direto.
Exemplos:
O peso de massa foliar acusou perda de 3,48%.
Exames detalhados acusaram a presença da bactéria nos tecidos.
“Acusar”, no sentido de “comunicar, notificar, confirmar (recepção de carta, ofício, etc.)”, pede objeto direto.
Exemplo:
Acusou o recebimento do convite para a solenidade de posse da nova diretoria.
Agradar
“Agradar”, no sentido de “acariciar, afagar, mimar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O menino agradou o gatinho recém-nascido.
“Agradar”, no sentido de “contentar, satisfazer”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Os resultados positivos agradaram aos produtores.
Agradecer
“Agradecer”, no sentido de “mostrar gratidão”, admite as seguintes construções:
- Com objeto indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplos:
Em todos os momentos, agradeça a sua família.
A empresa agradeceu aos funcionários.
Observação: Modernamente, aceita-se construção com objeto indireto (preposição “a”) seguido de construção com a preposição “por”.
Exemplo:
O presidente agradeceu aos membros da comissão pelo apoio.
- Com objeto direto (“algo”).
Exemplo:
O novo diretor agradeceu as boas-vindas.
- Com objeto direto (“algo”) e indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplo:
Ele agradeceu ao prefeito a sua nomeação.
Alocar
“Alocar”, no sentido de “destinar (fundos, recursos, verbas, etc.) a fins específicos”, pede objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplo:
O governo deverá alocar maiores recursos às universidades.
Antecipar
“Antecipar”, no sentido de “ocorrer antes do tempo próprio ou marcado”, “adiantar(-se)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplos:
Neste ano, o verão antecipou-se.
O sombreamento antecipou a abertura dos botões florais.
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
É preferível esperar que antecipar.
“Antecipar”, no sentido de “comunicar com antecedência”, pede objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
Os coordenadores não anteciparam a ele nada sobre o projeto.
O chefe antecipou os detalhes da proposta aos pesquisadores.
“Antecipar”, nos sentidos de “dizer, perceber ou anunciar antecipadamente”; “prever, prenunciar, prognosticar”, pede objeto direto.
Exemplos:
Os mapas meteorológicos antecipavam a chegada da frente fria.
A análise econômica antecipava o fim da crise.
“Antecipar-se”, no sentido de “chegar antes de, tomar a dianteira”; “adiantar(-se)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
O governo antecipou o pagamento do benefício.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a” ou “em”).
Exemplos:
Newton antecipou-se à ciência de seu tempo.
O estudante antecipou-se na resposta.
Ele antecipou-se ao sócio na escolha do nome da firma.
Apontar
“Apontar”, nos sentidos de “fazer a ponta” e “fazer referência a, mencionar”, pede objeto direto.
Exemplos:
Com um canivete, deve-se apontar a estaca e fincá-la no solo.
A pesquisadora apontou duas linhas de trabalho.
“Apontar”, no sentido de “mostrar, indicar (com dedo, gesto, olhar)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplos:
O revisor apontou os erros gramaticais no texto.
Diante dos veterinários, o criador apontou o animal doente do seu rebanho.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
O produtor apontou aos trabalhadores o lugar onde deveriam ser enterrados os frutos caídos.
A recepcionista apontou a entrada aos convidados.
- Com construção com a preposição “para” ou “a”.
Exemplo:
Ela ergueu o braço e apontou para o ônibus.
“Apontar”, no sentido de “dirigir um objeto para uma direção”, pede objeto direto, seguido ou não de construção com as preposições “para” ou “contra”.
Exemplos:
O guia apontou o dedo indicador para a trilha que iriam seguir.
O fotógrafo inexperiente apontou a câmera contra o sol forte.
“Apontar”, no sentido de “indicar, nomear”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto seguido de construção com a preposição “para”.
Exemplo:
Apontaram-no para [ser] diretor da empresa.
- Com objeto direto seguido de predicativo.
Exemplo:
Apontaram-no [como] representante da Unidade.
“Apontar”, no sentido de “estar voltado para determinada direção”, admite construção com a preposição “para”.
Exemplo:
A abertura principal dos abrigos para bezerros deve apontar para o leste, a fim de permitir a entrada do sol da manhã.
“Apontar”, no sentido de “começar a aparecer, despontar”, não exige complemento verbal.
Exemplos:
A aurora deste dia apontou, e já fazia 15 °C.
Bastou o palestrante apontar no palanque para a plateia começar a aplaudir.
Aprovar (e reprovar)
“Aprovar”, nos sentidos de “dar aprovação, autorizar”; “considerar bom, adequado”; “ser favorável a”; “considerar habilitado”, pede objeto direto.
“Reprovar” tem a mesma regência de “aprovar”.
Exemplos:
As autoridades aprovaram [ou reprovaram] a liberação de verba.
Talvez os especialistas não aprovem [ou reprovem] este projeto.
Os colegas aprovaram [ou reprovaram] sua iniciativa.
A banca deve aprovar [ou reprovar] o candidato.
Observação: A construção a seguir é inadequada:
Exemplo:
O candidato aprovou [ou reprovou] no teste. ERRADO
use a construção
O candidato foi aprovado [ou reprovado] no teste. CERTO
Aspirar
“Aspirar”, no sentido de “sorver, inspirar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O produtor pode sofrer sérias consequências se aspirar o pesticida na hora de sua aplicação.
“Aspirar”, no sentido de “almejar, desejar, pretender”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
O jovem aspira ao cargo de pesquisador.
Observação: Nessa segunda acepção do verbo, o objeto indireto “a ele(s)”, “a ela(s)” não pode ser convertido em “lhe”.
Exemplos:
O jovem aspira-lhe. ERRADO
O jovem aspira a ele. CERTO
Assistir
“Assistir”, no sentido de “socorrer, prestar assistência, ajudar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O médico assiste o doente.
“Assistir”, no sentido de “caber, pertencer”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
O direito de ir e vir assiste a todos.
Observação: Nessa segunda acepção do verbo, o objeto indireto “a ele(s)”, “a ela(s)” pode ser convertido em “lhe”.
Exemplo:
Assiste a todos [ou Assiste-lhes] o direito de lutar pela justiça social.
“Assistir”, no sentido de “presenciar, estar presente”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Os visitantes assistiram à palestra proferida pelo pesquisador.
Observação 1: O verbo “assistir”, nessa terceira acepção, não admite o pronome “lhe(s)”, que deve ser trocado por “a ele(s)”, “a ela(s)”.
Exemplo:
Esta foi uma boa palestra, mas poucos lhe assistiram. ERRADO
Esta foi uma boa palestra, mas poucos assistiram a ela. CERTO
Observação 2: Por ser verbo transitivo indireto, o verbo “assistir” nesta terceira acepção não admite voz passiva.
Exemplos:
O curso de capacitação foi assistido pelos produtores de leite. ERRADO
Os produtores de leite assistiram ao curso de capacitação. CERTO
Atender
“Atender”, no sentido de “dar atenção, ouvir, responder, acatar”, se dirigido a pessoa ou coisa, pede objeto direto ou indireto (preposição “a”).
Exemplos:
O presidente atendeu o [ou ao] funcionário.
A equipe de comunicação atendeu os [ou aos] visitantes.
A secretária atendeu o [ou ao] telefone.
Atenda os [ou aos] conselhos dos técnicos.
Negou-se a atender a [ou à] intimação.
Apenas duas amostras atenderam a [ou à] legislação vigente.
Observação: Nessa primeira acepção do verbo, quando o complemento verbal referindo-se a pessoa for pronome, não se admite a forma “lhe(s)”; apenas as formas objetivas diretas “o(s)”, “a(s)” devem ser usadas.
Exemplo:
O presidente atendeu-lhe. ERRADO
O presidente atendeu-o. CERTO
“Atender”, no sentido de “receber”, admite as seguintes construções:
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
O médico atende em casa.
- Com objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
A dentista só atende a um paciente por dia.
Chamar
“Chamar”, no sentido de “fazer um apelo”, pede objeto direto.
Exemplo:
O fazendeiro chamou o veterinário.
“Chamar”, no sentido de “mandar ir ou vir”, pede objeto indireto (preposição “por”).
Exemplo:
O supervisor chamou pelo funcionário.
“Chamar”, no sentido de “convocar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O presidente chamou o conselho.
“Chamar-se”, no sentido de “ser chamado, ter o nome de”, admite construção com predicativo (nome próprio).
Exemplo:
Ele se chama Pedro.
“Chamar”, no sentido de “apelidar, qualificar, tachar”, admite as seguintes construções:
- Chamar alguém (de) + predicativo.
Exemplo:
Chamou o funcionário de negligente. [= Chamou-o negligente]
- Chamar (preposição “a”) alguém (de) + predicativo.
Exemplo:
Chamou ao funcionário de negligente. [= Chamou-lhe negligente]
“Chamar”, no sentido de “avocar, tomar, assumir”, pede objeto direto e indireto (preposição “a” ou “sobre”).
Exemplo:
Ele chamou a [ou sobre] si a responsabilidade da decisão.
Chegar
“Chegar”, nos sentidos de “ter atingido (destino)” e de “alcançar”, deve ser seguido da preposição “a”. Nesses casos, não se deve usar a preposição “em”.
Exemplo 1:
Chegou em Salvador de madrugada. ERRADO
Chegou a Salvador de madrugada. CERTO
Exemplo 2:
A escada é tão baixa que não chega no teto. ERRADO
A escada é tão baixa que não chega ao teto. CERTO
Observação 1: Use a preposição “em” apenas em designação de tempo.
Exemplo:
Os primeiros exemplares da publicação chegaram em 2005 às livrarias.
Observação 2: Use a preposição “de” no sentido de “voltar de”, “vir de”.
Exemplo:
Os pesquisadores chegaram da fazenda ontem à noite.
Compartilhar
“Compartilhar”, nos sentidos de “ter ou tomar parte em”, “partilhar com”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
O ministro compartilhou sua visão sobre a política monetária nacional.
- Com objeto indireto (preposição “de”).
Exemplo:
Os colegas não compartilhavam de suas ideias.
- Com objeto direto e indireto (preposição “com”).
Exemplo:
O técnico compartilhou com os ouvintes seu conhecimento sobre o preparo da muda antes do plantio.
Comunicar
“Comunicar”, no sentido de “fazer chegar, transmitir (mensagem, informação, ordem, etc.)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto (“algo”).
Exemplo:
Esse orador sabe comunicar confiança e credibilidade.
- Com objeto direto (“algo”) e indireto (“alguém”, antecedido de preposição “a” ou “para”).
Exemplo:
O ministro comunicou as decisões aos assessores.
Observação 1: Para referir-se a pessoa, emprega-se objeto indireto (e não direto).
Exemplos:
O diretor comunicou os funcionários sobre a nova resolução. ERRADO
O diretor comunicou os funcionários da nova resolução. ERRADO
O diretor comunicou-os da nova resolução. ERRADO
O diretor comunicou aos funcionários a nova resolução. CERTO
O diretor comunicou-lhes a nova resolução. CERTO
Observação 2: Esse verbo não admite voz passiva para pessoa.
Exemplo:
Os funcionários foram comunicados da reunião. ERRADO
A reunião foi comunicada aos funcionários. CERTO
Nesse caso, pode-se usar outro verbo no lugar de “comunicar”, como: “informar”, “avisar”, “cientificar”.
Exemplo:
Todos foram informados [ou avisados, ou cientificados] de que não haveria expediente.
“Comunicar”, no sentido de “passar ou deixar passar (força, energia, etc.), transmitir-se”, pede objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplo:
A engrenagem comunicou movimento ao portão, fazendo-o abrir.
“Comunicar”, no sentido de “possibilitar o deslocamento (de um lugar a outro, de uma coisa a outra)”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Um longo corredor comunica as duas salas.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a” ou “com”).
Exemplo:
Uma estrada de chão comunica a entrada da fazenda com a rodovia estadual.
Constituir
“Constituir”, no sentido de “ser a base, a parte principal de; compor; formar”, pede objeto direto.
Exemplo:
As células constituem os tecidos dos seres vivos.
“Constituir”, no sentido de “estabelecer, organizar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O ministro constituiu um grupo de trabalho para definir objetivos e funções da pesquisa agropecuária.
“Constituir”, no sentido de “assentar em certo lugar”, pede objeto direto seguido de advérbio (ou locução adverbial).
Exemplo:
Constituiu a sede da firma naquela cidade.
“Constituir”, nos sentidos de “dar poderes a alguém para tratar de negócios”, “exercer mandato, cargo ou função”; “nomear”; “eleger”, pede objeto direto, seguido ou não de predicativo.
Exemplos:
Ele já constituiu advogado.
Constituiu-a sua representante legal.
“Constituir-se”, no sentido de “arrogar-se condição, direito, posição”, admite construção com predicativo (antecedido ou não da preposição “em”).
Exemplos:
Constituiu-se guardião das florestas da região.
Constituiu-se em defensor dos métodos não convencionais de cultivo.
“Constituir-se”, no sentido de “passar a ser; tornar-se”, admite construção com predicativo (antecedido da preposição “em”).
Exemplo:
O evento constituiu-se em uma [= tornou-se uma] experiência exitosa.
“Constituir”, no sentido de “representar, ser, consistir”, pede objeto direto.
Exemplos:
O Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta constitui uma estratégia de produção agropecuária que integra diferentes sistemas produtivos.
A ocorrência de pestes e doenças nos cultivos constitui uma ameaça à saúde pública.
Observação: Nessa sétima acepção, a construção formal (que é a mais indicada para um texto técnico) é “algo ou alguém constitui algo”. Por isso, prefira dizer:
Exemplo:
Esses projetos constituem [= são] exemplos de revitalização da pesquisa. PREFIRA
E evite dizer:
Esses projetos constituem-se em exemplos de revitalização da pesquisa. EVITE
Contribuir
“Contribuir”, nos sentidos de “pagar contribuição, dar dinheiro”; “cooperar”, “participar”, admite as seguintes construções:
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Apesar dos apelos por doações, muitos se negaram a contribuir.
- Com objeto indireto (preposição “com” ou “para”).
Exemplos:
Cada participante contribuiu com 20 reais.
Ele contribuiu com alguns capítulos.
Observação: O complemento verbal precedido de “para” refere-se à “finalidade”.
Exemplos:
O projeto contribuiu para o resgate de sementes crioulas.
O tratamento e a reciclagem dos dejetos contribuem para a redução da poluição do meio ambiente.
O complemento verbal precedido de “com” refere-se “àquilo que é oferecido” na contribuição.
Exemplo:
O projeto contribuiu com a distribuição de cartilhas e a oferta de cursos de capacitação.
Portanto, deve-se evitar a construção de complemento com a preposição “com” que exprima finalidade.
Exemplo:
A isenção de impostos contribui com o aumento da competitividade das empresas nacionais. ERRADO
A isenção de impostos contribui para o aumento da competitividade das empresas nacionais. CERTO
Convidar
“Convidar”, no sentido de “fazer um convite, chamar”, pede objeto direto, seguido ou não de construção com a preposição “para”.
Exemplos:
O presidente só convidou seus assessores.
Convidaram-no para a solenidade.
Convidaram o pesquisador para o almoço.
“Convidar-se”, no sentido de “oferecer-se, dispor-se”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Nenhum membro do grupo se ofereceu para liderá-lo; foi preciso que um estranho se convidasse.
- Com objeto direto e indireto (preposição “para” ou “a”).
Exemplos:
O rapaz se convidou para liderar o grupo.
Os organizadores convidaram vários especialistas para o evento.
Custar
“Custar”, no sentido de “ter determinado valor ou preço ou valer”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
A elaboração e a execução do projeto custaram, aproximadamente, 100 mil dólares.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
A aquisição de máquinas e equipamentos custou à empresa cerca de 7 milhões de reais.
A cirurgia custou uma fortuna ao convênio.
Observação: Os termos “barato” e “caro” não variam depois do verbo “custar”.
Exemplos:
Agora, os combustíveis custam 30% mais caro para o consumidor final.
Esses artigos custam barato.
“Custar”, no sentido de “ser custoso, difícil, trabalhoso”, admite as seguintes construções:
- Sem complemento verbal.
Exemplos:
Custa muito corrigir um erro. [= Corrigir um erro custa muito]
Custou muito não reagir àquela discussão. [= Não reagir àquela discussão custou muito]
- Com objeto indireto (preposição “a”).
Exemplos:
Custa a ele [ou Custa-lhe] corrigir velhos hábitos.
Custou-lhes muito não reagir àquela discussão.
Observação 1: Nesses dois exemplos acima (objeto indireto com preposição “a”), o verbo “custar” tem como sujeito uma oração infinitiva. Por isso, é empregado apenas na terceira pessoa do singular.
Observação 2: Embora frequentes na linguagem oral, construções como as que constam abaixo ainda não são bem vistas em linguagem escrita formal, razão por que devem ser evitadas.
Exemplos:
O operador custou a entender o funcionamento deste sistema. EVITE
Os membros da comitiva custaram a chegar a um consenso. EVITE
Seixas custou a conter-se. EVITE
Prefira as seguintes construções com o verbo “custar”:
Exemplos:
Custou-lhe entender o funcionamento deste sistema. [= Entender o funcionamento deste sistema custou a ele.] PREFIRA
Custou-lhes chegar a um consenso. [= Custou a eles chegar a um consenso.] PREFIRA
Custou a Seixas conter-se. PREFIRA
ou construções com verbos alternativos, como:
Exemplos:
Foi trabalhoso entender o funcionamento deste sistema.
Seixas teve dificuldade em conter-se.
“Custar”, no sentido de “acarretar (trabalhos)”, “causar, ocasionar (incômodos, sofrimentos, prejuízos)”, pede objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
A falta de um planejamento detalhado custou-lhe grande atraso na entrega dos resultados.
As fortes chuvas custaram ao produtor perdas de até 70% da produção.
Defender
“Defender”, nos sentidos de “proteger, afastar (mal ou perigo)”; “advogar no interesse de”; “lutar ou manifestar-se em favor de”; “impedir ou opor resistência a”; “sustentar com argumentos e razões”; “preservar”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplos:
Ele sempre defende seu ponto de vista.
O doutorando defendeu sua tese.
Eles defenderam o uso de bioinsumos.
- Com objeto direto e indireto (preposição “de” ou “contra”).
Exemplos:
O uso desses produtos defende a lavoura do ataque de pragas.
A acomodação noturna nos estábulos defende o rebanho do frio e da umidade.
A medida visa defender os trabalhadores contra riscos de acidentes de trabalho.
Observação: Em certos casos, para evitar ambiguidade, é preciso substituir a preposição “de” pela preposição “contra”.
Exemplo:
Foram implementadas medidas para defender a área de preservação ambiental dos invasores. EVITE
Foram implementadas medidas para defender a área de preservação ambiental contra os invasores. PREFIRA
Denunciar
“Denunciar”, no sentido de “dar ou oferecer denúncia”, pede objeto direto.
Exemplos:
Denunciou o autor do crime.
As autoridades denunciaram o grileiro.
“Denunciar”, no sentido de “atribuir a responsabilidade de”, “difundir”, “revelar”, “expor à vista”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Sua voz denunciou-o.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
A imprensa denunciou o fato ao público.
O fazendeiro denunciou as irregularidades à polícia.
“Denunciar-se”, nos sentidos de “atribuir a responsabilidade (a si mesmo)”; “expor-se à vista”; e “revelar-se”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
O criminoso denunciou-se.
- Com objeto direto e objeto indireto (preposição “a”, “em” ou “por”).
Exemplos:
O homem denunciou-se à polícia.
A mulher denunciou-se pela magreza.
Eles se denunciaram pelo nervosismo.
Descer
“Descer”, no sentido de “dirigir-se a lugar mais baixo”, admite construção com a preposição “a” ou “para”. Nesses casos, não se devem usar construções com a preposição “em”.
Exemplo:
Ele desceu no primeiro andar. ERRADO
Ele desceu para o primeiro andar. CERTO
Se for mencionada a origem, o verbo “descer” admite construção com preposição “de... para” ou “de... a”.
Exemplo:
Ele desceu do quinto para o primeiro andar.
Esquecer
“Esquecer”, nos sentidos de “perder a lembrança de”; “não pensar em”; “deixar escapar da memória”; “não se lembrar de”; “deixar algo por distração, pressa, falta de atenção”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplos:
Ele já esqueceu o incidente.
Esqueceu o celular em cima da mesa.
- Com objeto indireto (preposição “de”), quando pronominal.
Exemplos:
Ele já se esqueceu do incidente.
Esqueceu-se do celular em cima da mesa.
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Ela apagou as mensagens para esquecer.
Faltar
“Faltar”, no sentido de “não existir, não haver”, admite as seguintes construções:
- Com objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Faltam recursos ao governo.
Observação: Nesse exemplo, “recursos” é sujeito, e “ao governo” é objeto indireto.
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Faltam recursos.
Observação: Nesse exemplo, “recursos” é sujeito, e não objeto direto.
“Faltar”, no sentido de “estar ausente, não comparecer”, admite as seguintes construções:
- Com objeto indireto (preposição “a” ou “em”).
Exemplo:
Ele faltou a [ou em] várias sessões.
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Por causa do forte temporal, muitos funcionários faltaram.
Fazer
“Fazer”, no sentido de “realizar, executar”, pede objeto direto.
Exemplo:
Ele fez o trabalho.
“Fazer”, nos sentidos de “ocorrer (certo fenômeno meteorológico ou estado atmosférico)” ou de “tempo transcorrido”, pede objeto direto.
Exemplos:
Faz frio e chuva.
Ontem fez 2 meses que ele trabalha nesta empresa.
Para orientações sobre flexão do verbo “fazer” nesta segunda acepção, consultar a seção 37.3.1.
“Fazer”, no sentido de “praticar, causar, ocasionar”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Não faça isso.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Não faça mal aos outros.
“Fazer”, no sentido de “proceder, comportar-se, agir”, não pede complemento verbal.
Exemplo:
Faça como quiser.
Observação: Nos sentidos de “esforçar-se ou empenhar-se por”; “causar”; “obrigar a”, o verbo “fazer” admite as formas “fazer que...” e “fazer com que...”
Exemplos:
A pandemia de covid-19 fez [com] que todos os eventos agropecuários do Brasil fossem cancelados.
Faça [com] que a equipe se sinta confortável.
Implicar
“Implicar”, nos sentidos de “dar a entender, fazer supor”; ou “ter como consequência, resultar, acarretar”, pede objeto direto.
Exemplos:
O bloqueio nas estradas implicou a chegada de poucos caminhões ao porto de embarque.
O atraso nas operações implica menor eficiência e, consequentemente, aumento no custo de produção.
A alta produção de grãos implica a necessidade de armazenagem segura e eficaz.
“Implicar”, no sentido de “tornar imprescindível ou requerer”, pede objeto direto.
Exemplo:
O combate às pragas na lavoura implica a adoção de medidas drásticas.
Observação: Nas duas acepções acima, use a construção “implicar algo” no lugar de “implicar em algo”, construção essa que provavelmente resultou da influência de sinônimos como “redundar”, “reverter”, “importar”, que são usados com a preposição “em”.
Exemplo:
A alteração provocada pelas mudanças climáticas implica em prejuízos para a produtividade. ERRADO
A alteração provocada pelas mudanças climáticas implica prejuízos para a produtividade. CERTO
“Implicar”, no sentido de “ter implicância, demonstrar antipatia”, pede objeto indireto (preposição “com”).
Exemplo:
Ele implica com os colegas.
“Implicar”, no sentido de “envolver (alguém ou a si mesmo), comprometer(-se)”, pede objeto direto e indireto (preposição “em”).
Exemplos:
O relator implicou o acusado no desfalque.
Ambicioso que era, acabou implicando-se no crime.
Implorar
“Implorar”, no sentido de “pedir chorando, fazer pedidos com ansiedade e insistência”, admite as seguintes construções:
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Ela ficou de joelhos a implorar.
- Com objeto direto e indireto (preposição “para” ou “a”).
Exemplos:
[Implorar a alguém algo] Implorou ao vendedor que desse desconto.
[Implorar alguém a algo] Implorou o vendedor para que desse desconto.
Indicar
“Indicar”, nos sentidos de “apontar”, “mostrar (com o dedo ou por meio de um sinal qualquer)”; “designar”; “mencionar”; “aconselhar”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplos:
A placa indicava um desvio.
O brigadista indicou a rota de fuga.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a” ou “para”).
Exemplos:
Os pesquisadores indicaram aos produtores as cultivares mais adequadas.
O segurança lhe indicou a saída mais próxima.
“Indicar”, no sentido de “determinar, denotar, revelar”, pede objeto direto.
Exemplos:
Os autores indicaram as técnicas e os métodos mais eficientes.
Os resultados obtidos indicavam o sucesso do experimento.
Informar
“Informar”, no sentido de “dar notícia ou informe, inteirar, instruir”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Informou os produtores.
- Com objeto direto (“alguém”) e indireto (“algo”, antecedido da preposição “de” ou “sobre”).
Exemplos:
Informou os produtores dos custos para a implantação dos plantios.
Informaram-no sobre o atraso no cronograma.
- Com objeto direto (“algo”) e indireto (“alguém”, antecedido de preposição “a”).
Exemplo:
Informou as alterações regimentais ao funcionário.
Observação 1: Os verbos “avisar”, “certificar”, “notificar”, “cientificar” e “prevenir” têm a mesma regência de “informar”.
Observação 2: Deve-se tomar cuidado para não atribuir dois objetos diretos ao mesmo verbo.
Exemplo:
O estudo informava os pesquisadores que o bioma estava praticamente destruído. ERRADO
O estudo informava aos pesquisadores que o bioma estava praticamente destruído. CERTO
O estudo informava os pesquisadores de que o bioma estava praticamente destruído. CERTO
Ir
“Ir”, nos sentidos de “comparecer”; “deslocar-se, dirigir-se (de um lugar a outro)”; e “conduzir, proporcionar acesso”, admite as seguintes construções:
- Com a preposição “a” ou “para”. Nesses casos, não se devem usar construções com a preposição “em”.
Exemplo 1:
Alguns convidados não irão no evento. ERRADO
Alguns convidados não irão ao evento. CERTO
Exemplo 2:
O aplicativo indicou o caminho que vai no museu. ERRADO
O aplicativo indicou o caminho que vai para o museu. CERTO
- Com as preposições “a” e “de”, quando se indica meio de transporte.
Exemplos:
Os técnicos foram a cavalo.
Desceram na estação indicada e foram a pé.
Os palestrantes foram de carro.
Os demais convidados preferiram ir de ônibus.
Lembrar
“Lembrar”, nos sentidos de “trazer à memória, recordar”; “guardar ou ter na lembrança”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Ele lembrou o incidente.
- Com objeto indireto (preposição “de”), quando pronominal.
Exemplo:
Ele lembrou-se do incidente.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplo:
O ministro lembrou a todos a importância da criação da Embrapa em 1973.
Levar
“Levar”, no sentido de “fazer passar (de um lugar) (a ou para outro), transportar, conduzir”, pede objeto direto.
Exemplo:
O caminhão leva mercadorias.
Observação: Quando a construção referir-se ao destino, usa-se o objeto direto seguido de construção com a preposição “para” ou “a”. Nesses casos, evite construções com a preposição “em”.
Exemplo:
O encarregado levou a encomenda no correio. ERRADO
O encarregado levou a encomenda ao correio. CERTO
Mencionar
“Mencionar”, no sentido de “fazer menção, referir, expor, narrar”, pede objeto direto.
Exemplo:
O palestrante mencionou um episódio marcante na sua biografia.
Obedecer
“Obedecer”, no sentido de “submeter-se à vontade de alguém, estar sob a autoridade de alguém, executar as ordens de alguém”, admite as seguintes construções:
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
Se todos os cães obedecerem, não será necessário repetir os protocolos de adestramento.
- Com objeto indireto (preposição “a”).
Exemplos:
[Obedecer a alguém] O cão obedecia ao dono.
[Obedecer a alguém] O cão obedecia-lhe.
[Obedecer a algo] O cão obedecia aos comandos de voz do treinador.
Observação: Apesar de sua transitividade indireta, o verbo “obedecer” admite construção passiva.
Exemplo:
A lei foi obedecida.
O verbo “desobedecer” segue a mesma regência do verbo “obedecer”.
Pagar
“Pagar”, no sentido de “remunerar, compensar ou retribuir”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto (“algo”).
Exemplo:
A empresa pagou o salário.
- Com objeto indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplo:
A empresa pagou aos funcionários [ou pagou-lhes].
- Com objeto direto (“algo”) e indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplo:
A empresa pagou o salário aos funcionários [ou pagou-lhes o salário].
- Sem complemento verbal.
Exemplos:
Muitos entraram na festa e não pagaram.
Quase todos assistiram ao evento sem pagar.
“Pagar”, no sentido de “satisfazer o preço ou valor de (mercadoria, bem, etc.)”, pede objeto indireto (“algo”, antecedido da preposição “por”).
Exemplo:
Quanto o agricultor pagou pelo saco de sementes?
“Pagar”, no sentido de “ser castigado, expiar, padecer”, pede objeto indireto (“algo”, antecedido da preposição “por”).
Exemplo:
O réu já pagou pelos seus crimes.
Perdoar
“Perdoar”, nos sentidos de “absolver” e “desculpar”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto (“algo”).
Exemplo:
A imprensa não perdoou o descuido da celebridade.
- Com objeto indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplo:
Ela não perdoou à família.
- Com objeto direto (“algo”) e indireto (“alguém”, antecedido da preposição “a”).
Exemplos:
O banco perdoou a dívida ao funcionário.
A autoridade perdoa-lhe o esquecimento da documentação.
Os professores perdoaram-lhe todas as respostas erradas na prova.
Preferir
“Preferir”, nos sentidos de “gostar mais de”; “dar primazia ou preferência a”; “escolher”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
Os consumidores preferem adquirir produtos orgânicos.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
Os produtores preferiram plantar a segunda safra de milho a investir no sorgo.
As cultivares desta espécie preferem clima quente a temperaturas baixas.
Observação 1: Quando pede objeto indireto, o verbo “preferir” requer a preposição “a” e não a locução “do que”.
Exemplo:
Alguns produtores preferem exportar seus produtos do que vendê-los no mercado interno. ERRADO
Alguns produtores preferem exportar seus produtos a vendê-los no mercado interno. CERTO
Observação 2: O verbo “preferir” não é um comparativo; tem os sentidos de “pôr em primeiro lugar”, “escolher” ou “querer antes”. Assim, tem valor absoluto e não deve ser acompanhado de palavras ou expressões como: “antes”, “mais”, “muito mais”, “mil vezes mais”, consideradas redundantes e, portanto, desnecessárias. Já o verbo “gostar” admite essas construções comparativas.
Exemplo:
A maioria dos profissionais prefere muito mais realizar o trabalho remoto a trabalhar de forma presencial. ERRADO
A maioria dos profissionais gosta muito mais de realizar o trabalho remoto do que trabalhar de forma presencial. CERTO
Prevenir
“Prevenir”, no sentido de “avisar com antecedência”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
As placas de alerta preveniram os visitantes.
- Com objeto direto e indireto (preposição “de”).
Exemplo:
As placas de alerta lhes preveniram da presença de animais selvagens. ERRADO
As placas de alerta os preveniram da presença de animais selvagens. CERTO
“Prevenir”, no sentido de “precaver, acautelar”, pede objeto direto (“alguém”) e objeto indireto (preposição “de” ou “contra”).
Exemplos:
O programa preveniu os produtores dos custos inerentes à aplicação do insumo.
O produtor preveniu-se contra os riscos da gripe aviária.
Privar
“Privar”, nos sentidos de “despojar alguém de alguma coisa”; “motivar a perda”; “impedir de ter a posse”, pede objeto direto e indireto (preposição “de”).
Exemplo:
A dificuldade de acesso privou os produtores locais dos insumos básicos.
“Privar”, no sentido de “abster-se”, pede objeto direto (na forma de pronome) e objeto indireto (preposição “de”).
Exemplo:
Precisando economizar para comprar a casa, ele privou-se de todo tipo de lazer.
“Privar”, no sentido de “conviver intimamente”, pede objeto indireto (preposição “com”).
Exemplo:
Durante o evento, os estudantes privaram com professores renomados.
Proferir
“Proferir”, qualquer que seja o seu sentido — “prenunciar”; “dizer (uma palavra, um nome, um discurso, um insulto)”; “dizer em voz alta, pronunciar”; “decretar, publicar (sentença)” —, pede objeto direto.
Exemplos:
O ministro proferiu um discurso no qual enfatizou o papel da Embrapa na modernização da agricultura brasileira.
Às 18h, o chefe proferiu o fim do expediente.
Observação: Esse verbo é necessariamente seguido de um complemento expresso por um nome. Alguém “profere alguma coisa” (que pode ser uma palavra, um nome, um discurso, um insulto, uma conferência, uma sentença, etc.), mas não “profere que”.
Exemplo:
O juiz proferiu que continuassem a tramitação. ERRADO
O juiz proferiu a sentença a favor da continuidade da tramitação. CERTO
Querer
“Querer”, no sentido de “desejar”, pede objeto direto.
Exemplos:
As mulheres do agronegócio querem participação mais ativa nas decisões estratégicas.
Empresários da aquicultura querem mais resultados de pesquisa sobre nutrição.
Deputados querem tributos menores para alimentos.
“Querer”, no sentido de “pretender, solicitar”, pede objeto direto (que pode inclusive ser uma oração iniciada com “que”).
Exemplo:
Os consumidores querem mais acesso a serviços de qualidade.
Os organizadores querem que o programa dê certo.
“Querer”, no sentido de “estimar, gostar”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplos:
Os pais querem aos filhos.
O professor homenageado deu-lhes bons conselhos, porque lhes quer muito bem.
Relatar
“Relatar”, no sentido de “narrar, expor, referir”, admite as seguintes construções:
- Com objeto direto.
Exemplo:
O pesquisador relatou sua experiência na área de biotecnologia.
- Com objeto direto e indireto (preposição “a”).
Exemplos:
Relataram o fato ao presidente da empresa.
O biólogo relatou-lhes o processo de construção da horta.
“Relatar”, no sentido de “listar, incluir, relacionar”, pede objeto direto e admite construção com as preposições “em” ou “entre”.
Exemplos:
O ministério relatou a cultivar na lista de espécies importáveis.
O organizador do congresso relatou-o entre os convidados.
“Relatar”, no sentido de “fazer relatório ou preâmbulo de decreto, lei, processo, etc.”, pede objeto direto.
Exemplo:
A senadora que relatou a Lei dos Orgânicos foi contundente.
Sair
“Sair”, no sentido de “passar do interior para o exterior”, admite construção com preposição “de...” ou “de...a” ou “para”.
Exemplos:
Após o término do seminário, todos saíram do auditório.
Os agricultores saíram do campo para a cidade.
“Sair”, no sentido de “parecer-se com”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Você saiu à sua mãe.
Situar
“Situar”, no sentido de “colocar-se ou estabelecer-se em determinado lugar”, admite construção com preposição “em” ou “entre”.
Exemplos:
A Unidade situa-se no município de Jaguariúna.
A empresa situa-se entre as duas ruas principais da cidade.
Sobressair
“Sobressair”, no sentido de “avultar, destacar-se, distinguir-se”, admite as seguintes construções:
- Com objeto indireto (preposição “em”, “por”, “a” ou “entre”).
Exemplos:
Nos testes realizados, o esterco sobressaiu a [entre] todos os tipos de adubo avaliados.
A macrorregião do Vale do Jaguaribe sobressaiu historicamente pelo cultivo de citros.
Ao comparar as cultivares, o trigo ‘BRS Pastoreio’ sobressaiu em rendimento de grãos.
- Sem complemento verbal.
Exemplo:
O palestrante mais jovem era quem sobressaía.
Observação: Modernamente, admite-se “sobressair” também como verbo pronominal.
Exemplo:
Ela se sobressai como pesquisadora. [= Ela sobressai como pesquisadora.]
Visar
“Visar”, nos sentidos de “mirar” ou “dar visto”, pede objeto direto.
Exemplos:
A ave de rapina visa o alvo à distância.
Os fiscais visaram a documentação sanitária do rebanho.
“Visar”, no sentido de “pretender, ter em vista”, pede objeto indireto (preposição “a”).
Exemplo:
Ele visa ao cargo de chefia.
Observação: Nessa segunda acepção, quando o verbo “visar” estiver seguido de verbo no infinitivo, a tendência atual é não usar “a” preposição a entre os dois verbos.
Exemplo:
A medida visava a amenizar o impacto da variação de temperatura nas lavouras. EVITE
A medida visava amenizar o impacto da variação de temperatura nas lavouras. PREFIRA
Voltar
“Voltar”, no sentido de “regressar”, admite as seguintes construções:
- Com as preposições “a” e “para”.
Exemplos:
Os pesquisadores voltaram para São Paulo depois da reunião.
Os pesquisadores voltaram a São Paulo depois da reunião.
- Com a preposição “de”.
Exemplos:
Os pesquisadores voltaram de Brasília após a reunião.
Ela voltou da Europa ontem.
- Com as preposições “de...para” ou “a”.
Exemplo:
Os pesquisadores voltaram de Brasília para São Paulo depois da reunião.
Nesses casos, evite construções com a preposição “em”.
Exemplo 1:
Após 48 dias da adubação, os pesquisadores voltaram no local para verificar a produção de capim. EVITE
Após 48 dias da adubação, os pesquisadores voltaram ao local para verificar a produção de capim. PREFIRA
Exemplo 2:
O palestrante voltou no Rio. EVITE
O palestrante voltou para o Rio. PREFIRA
37.2.2 Exemplos de regência verbal
Errado | Certo |
---|---|
Conseguiu com que todos aceitassem. | Conseguiu que todos aceitassem. |
Deu à luz a gêmeos. | Deu à luz gêmeos. |
Equivale dizer que [...] | Equivale a dizer que [...] |
Habituou-se com ela. | Habituou-se a ela. |
Negou-se em acatar as ordens. | Negou-se a acatar as ordens. |
Nunca lhe viram. | Nunca o(a) viram. |
A empresa participou os funcionários da decisão. | A empresa participou a decisão aos funcionários. |
Pediu aos interessados para que procurassem a chefia. | Pediu aos interessados que procurassem a chefia. |
Permitiu com que se candidatasse. | Permitiu que se candidatasse. |
Procedeu o inventário. | Procedeu ao inventário. |
Recusou-se em obedecer às ordens. | Recusou-se a obedecer às ordens. |
Recusou ao presente. | Recusou o presente. |
Repetiu de ano. | Repetiu o ano. |
37.2.3 Informações complementares sobre regência verbal
- Verbo transitivo indireto não admite voz passiva.
Exemplo:
A palestra foi assistida por eles. ERRADO
Assistiram à palestra. CERTO
Observação: Os verbos “obedecer” e “desobedecer” são exceções a essa regra (em virtude da sua arcaica transitividade direta). Embora tenham transitividade indireta, aceitam a construção passiva.
Exemplo:
A lei foi desobedecida.
- Verbos de regências diferentes não podem receber o mesmo complemento.
Exemplo:
Assistiram e gostaram do documentário. ERRADO
Assistiram ao documentário e gostaram dele. CERTO
Gostaram do documentário ao qual assistiram. CERTO
- Complemento verbal com pronomes oblíquos de 3ª pessoa.
- Verbos transitivos indiretos pedem complemento com o pronome “lhe”.
Exemplo:
Este livro o pertence. ERRADO
Este livro lhe pertence. CERTO
Observação: Nem todo verbo transitivo indireto admite como objeto indireto o pronome oblíquo “lhe”. Alguns admitem apenas as formas “a ele(s)” e “a ela(s)”, como “aspirar”, “assistir” e “atender”. Para outros verbos que se enquadram nessa exceção, recomenda-se consultar dicionários de regência.
- Verbos transitivos diretos pedem complemento com os pronomes oblíquos “o(s)” e “a(s)”.
Exemplo:
Ele lhe auxiliou. ERRADO
Ele a auxiliou. CERTO
Formas dos pronomes oblíquos de 3ª pessoa (objeto direto)
Quando o pronome oblíquo de 3ª pessoa que funciona como objeto direto vem antes do verbo, apresenta-se sempre com as formas “o(s)” e “a(s)”.
Exemplos:
Não as encontraram no local combinado.
A secretária os auxiliou.
Quando, porém, o pronome está colocado depois do verbo e se liga a ele por hífen, a sua forma depende da terminação do verbo.
- Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empregam-se “o(s)” e “a(s)”.
Exemplos:
Ela convidou-os para a solenidade.
Havia muitos livros espalhados sobre a mesa; o bibliotecário organizou-os todos naquela estante.
- Se a forma verbal terminar em “-r”, “-s” ou “-z”, suprimem-se essas consoantes, e o pronome assume as modalidades “lo(s)” e “la(s)”.
Exemplos:
Encontrá-lo durante o congresso foi uma grata surpresa.
As hortaliças foram levadas à feira pela manhã. O feirante queria vendê-las até o meio-dia.
Ele fez o planejamento? Sim, fê-lo.
Ninguém quis executar aquela tarefa, mas João qui-lo.
- Se a forma verbal terminar em ditongo nasal, o pronome assume as modalidades “no(s)” e “na(s)”.
Exemplos:
Os livreiros não costumam dar desconto; dão-no apenas durante congressos e feiras.
Os autores gostariam de acrescentar algumas frases ao documento. Entregaram-nas por escrito ao editor.
- Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empregam-se “o(s)” e “a(s)”.
- Verbos transitivos indiretos pedem complemento com o pronome “lhe”.
- Complemento verbal com os demais pronomes oblíquos:
Os pronomes oblíquos “me”, “te”, “se”, “nos” e “vos” atuam tanto como objeto direto quanto como objeto indireto, a depender da regência do verbo.
Exemplos:
Ele te ajudou? [Aqui, “te” é objeto direto, porque o verbo “ajudar” pede objeto direto.]
Ele te enviou as propostas? [Aqui, “te” é objeto indireto, porque o verbo “enviar” pede um objeto direto (“as propostas”) e um objeto indireto (“te”).]
37.2.4 Informação sobre regência nominal
Embora a regência nominal não seja extensamente discutida neste Manual, destacamos um erro recorrente relacionado a ela que se deve evitar: não se faz a combinação de preposição com pronome pessoal, pronome demonstrativo ou artigo quando essas formas forem sujeito ou objeto do verbo da oração subordinada.
Exemplo 1:
[Pronome pessoal]
Apesar dele ter se inscrito com antecedência, não garantiu a vaga. ERRADO
Apesar de ele ter se inscrito com antecedência, não garantiu a vaga. CERTO
Exemplo 2:
[Pronome demonstrativo]
É hora daquela encomenda ser entregue. ERRADO
É hora de aquela encomenda ser entregue. CERTO
Exemplo 3:
[Artigo]
O instrutor colocou todo o empenho nos técnicos se aperfeiçoarem. ERRADO
O instrutor colocou todo o empenho em os técnicos se aperfeiçoarem. CERTO
Como alternativa, pode-se reformular a frase, usando uma só oração.
Exemplos:
Apesar da inscrição antecipada, ele não garantiu a vaga.
É hora de entregar aquela encomenda.
O instrutor colocou todo o empenho no aperfeiçoamento dos técnicos.
37.3 Concordância verbal
A regra geral de concordância verbal estabelece que o verbo concorda com o sujeito da oração em número e pessoa. No entanto, algumas situações merecem comentários específicos.
A seguir, estão elencadas algumas delas. Para explicações completas, consulte gramáticas.
37.3.1 Alguns verbos
Acontecer / Bastar / Caber / Existir / Faltar / Ocorrer / Restar / Sobrar
Esses verbos geralmente aparecem antepostos ao sujeito e concordam com ele em número e pessoa. Nas locuções verbais, o verbo principal transmite a pessoalidade ao verbo auxiliar, isto é, o verbo auxiliar é o que flexiona em número e pessoa.
Exemplos:
Aconteceram fatos incríveis.
Bastam poucas horas de sol para que as folhas atinjam o teor correto de umidade.
Não cabem veículos de grande porte no estacionamento.
Existe expectativa de que os pesquisadores apresentem soluções inovadoras.
Haverão de existir respostas a essas questões.
Faltam recursos para concluir o projeto.
Estão faltando 2 semanas para o início do evento.
Ocorreram fatos novos.
Podem ocorrer chuvas e trovoadas.
Ainda restam alguns questionamentos com relação ao manejo dessa doença.
Sobraram poucas sementes com qualidade suficiente para o plantio.
Observação sobre os verbos “bastar”, “caber”, “faltar” e “restar”
Em alguns casos, o sujeito do verbo é uma oração infinitiva, e não um substantivo no plural. Por isso, nesses casos, o verbo fica no singular.
Exemplos:
Basta os problemas serem identificados.
Cabe apurar tais fatos.
Falta as autoridades se pronunciarem.
Resta avaliar os riscos socioambientais associados.
Fazer
O verbo “fazer” é impessoal no sentido de “haver” quando dá ideia de tempo transcorrido ou de fenômeno meteorológico. Deve, portanto, ficar na 3ª pessoa do singular.
Exemplos:
Em 2021, fez 48 anos que a Embrapa foi criada.
Ontem fez sol o dia inteiro.
Fazia 37 °C e os animais já apresentavam sinais de estresse térmico.
Nas locuções, o verbo “fazer” transmite sua impessoalidade ao auxiliar. Ou seja, se o verbo “fazer” for impessoal, seu auxiliar ficará na 3ª pessoa do singular.
Exemplo:
Vão fazer 10 anos que a lei entrou em vigor. ERRADO
Vai fazer 10 anos que a lei entrou em vigor. CERTO
Haver (como verbo principal)
O verbo “haver” nos sentidos de “existir”, “suceder”, “ocorrer” e “fazer (algum tempo)” é impessoal, ou seja, não tem sujeito. O verbo deve, portanto, ficar na 3ª pessoa do singular.
Exemplos:
Houve muitos avanços nesta área.
Haverá exceções.
E se houver empecilhos ao desenvolvimento do projeto?
Havia 10 anos que trabalhava como engenheiro agrícola.
Observação 1: Nesse sentido, o verbo “haver” é sempre impessoal. Por isso, é inaceitável, na linguagem culta formal, a pluralização do verbo, em concordância com o substantivo (que, por análise malfeita, seria considerado sujeito). Nesse caso, o substantivo acompanhante é objeto direto, e não sujeito.
Exemplo 1:
Houveram diferenças significativas entre as cultivares estudadas. ERRADO
Houve diferenças significativas entre as cultivares estudadas. CERTO
Exemplo 2:
Se houvessem problemas, o projeto seria interrompido. ERRADO
Se houvesse problemas, o projeto seria interrompido. CERTO
Observação 2: Nas locuções verbais, o verbo “haver” transmite sua impessoalidade ao auxiliar, ou seja, o verbo auxiliar fica na 3ª pessoa do singular.
Exemplo 1:
Por conta das instabilidades térmicas na área de testes, vão haver variações dos resultados. ERRADO
Por conta das instabilidades térmicas na área de testes, vai haver variações dos resultados. CERTO
Exemplo 2:
Devem haver exceções. ERRADO
Deve haver exceções. CERTO
Observação 3: Na linguagem culta formal, não é correto utilizar o verbo “ter” no lugar do verbo “haver” com o sentido impessoal.
Exemplo:
Ontem não teve reunião. ERRADO
Ontem não houve reunião. CERTO
Haver (como verbo auxiliar)
O verbo “haver” pode exercer função de verbo auxiliar. Nesse caso, concorda com o sujeito se o verbo principal for pessoal e pode ser substituído pelo verbo “ter”.
Exemplos:
As frutas haviam (ou tinham) sido colhidas no dia anterior.
Até o dia 31 de maio, a doença já havia (ou tinha) atingido 57 países.
Mas, se o verbo principal for impessoal, o verbo “haver” auxiliar ficará na 3ª pessoa do singular.
Exemplo:
Havia feito 6 meses de sua participação na conferência.
Ser
Assim como se dá com qualquer verbo, o normal é que o sujeito e o verbo “ser” concordem em número e pessoa.
Exemplos:
O pesquisador era revisor de importantes periódicos nacionais e internacionais.
Os dias de inverno são menores do que os de verão.
Todavia, em alguns casos, o verbo “ser” se acomoda à flexão do predicativo:
- Quando o sujeito do verbo “ser” for um dos pronomes “isto”, “isso”, “aquilo”, “tudo”, “ninguém”, “nenhum” ou expressão de valor coletivo ou partitivo (do tipo “o resto”, “o mais”, “a maior parte”, “a maioria”), o verbo “ser” concorda normalmente com o predicativo (é rara a concordância com o sujeito).
Exemplos:
Tudo são experiências válidas, adquiridas ao longo dos anos.
O resto eram novidades pouco interessantes.
A maioria eram cultivares comerciais.
- Quando antecedido dos pronomes interrogativos “quem” e “que”, o verbo “ser” concorda com o predicativo.
Exemplos:
O que são agentes de controle biológico?
Quem eram os convidados?
- No caso de referência a uma pessoa (expressa num substantivo próprio ou num pronome pessoal reto), o verbo normalmente concorda em número com a pessoa, esteja ela em posição de sujeito ou de predicativo.
Exemplos:
Ovídio é muitos poetas ao mesmo tempo.
Ela era as preocupações do pai.
O chefe és tu.
Tu és o autor do livro.
O rei Luís XIV declarou: “O Estado sou eu”.
- Entre um elemento no plural e outro no singular, o verbo “ser” concorda com aquele (sujeito ou predicativo) que estiver no plural, ressalvados os casos mencionados anteriormente.
Exemplos:
Esses dados são parte de um relatório.
Os tijolos seriam um material barato?
O problema eram as chuvas intermitentes na região.
Nossa força são as florestas.
O limite de carga do caminhão são 6 t.
- Casos especiais do verbo "ser":
- Nas designações de horas, datas, distâncias, o verbo “ser” é impessoal (isto é, sem sujeito) e, por isso, concorda com a expressão numérica.
Exemplos:
São 5 horas.
Hoje são 4 de maio.
Daqui à empresa são 6 km.
Observação: Caso a construção inclua a palavra “dia”, a concordância deve ser com essa palavra.
Exemplo:
Hoje é dia 4 de maio.
- Quando o verbo “ser” aparece nas expressões “é muito”, “é pouco”, “é demais”, “é suficiente”, “é bastante”, “é mais que (ou do que)”, “é menos que (ou do que)” e o sujeito representado por termo no plural exprime quantidade, preço, medida, etc., o verbo “ser” fica no singular.
Exemplos:
Para uma planta jovem, 2 kg de adubo é bastante.
Na década de 1950, 50 t ha-1 era muito em termos de produtividade.
Na safra passada, 20 sacas de arroz foi mais do que precisavam para o consumo anual da família.
- Nas designações de horas, datas, distâncias, o verbo “ser” é impessoal (isto é, sem sujeito) e, por isso, concorda com a expressão numérica.
37.3.2 Concordância com o infinitivo
37.3.2.1 Infinitivo flexionado
Flexiona-se o verbo no infinitivo nas seguintes situações:
- Quando o sujeito da oração infinitiva estiver claramente expresso.
Exemplos:
É melhor eles monitorarem as lavouras diariamente.
Convém os produtores seguirem as recomendações dos técnicos.
Está na hora de eles fazerem o desbaste.
- Quando o verbo se referir a um agente não expresso, que se quer dar a conhecer pela desinência verbal.
Exemplos:
Ele achou melhor não adotarem essas medidas.
Convém fazerem o agendamento prévio.
- Quando o sujeito for indeterminado. Neste caso, o verbo deve estar na 3ª pessoa do plural.
Exemplo:
Viu executarem os criminosos.
- Quando o verbo for pronominal ou reflexivo.
Exemplos:
Os organizadores orientaram os participantes a se sentarem nos lugares marcados.
O juiz obrigou os litigantes a se cumprimentarem.
- Quando o verbo no infinitivo vier regido de preposição e preceder a oração principal.
Exemplos:
Ao perceberem os primeiros sintomas da doença, os produtores adotaram as medidas de controle.
Antes de chegarem à resposta correta, devem consultar muitos especialistas.
37.3.2.2 Infinitivo não flexionado
Não se flexiona o verbo no infinitivo nas seguintes situações:
- Quando o verbo for impessoal, ou seja, quando não se referir a nenhum sujeito.
Exemplos:
Para cortar os galhos, é necessário utilizar ferramentas adequadas.
Estudar é importante.
Vale a pena investir em tecnologia de ponta.
- Quando o verbo fizer parte de uma locução verbal (mesmo que, entre o verbo auxiliar e o principal, haja elementos intercalados).
Exemplos:
Os pesquisadores não podem fazer sozinhos o trabalho de levar a informação ao campo.
As empresas precisam, constantemente, inovar para não perder seu espaço no mercado.
Os chefes devem, no exercício de suas funções, ser justos e corretos.
- Quando o verbo vier imediatamente depois de verbos causativos/sensitivos (“deixar”, “mandar”, “fazer”, “ver”, “ouvir”, “sentir”, etc.) ou apenas separado deles por seu sujeito quando expresso por um pronome oblíquo.
Exemplo 1:
Mandou entrar os funcionários.
Mandou-os entrar.
Exemplo 2:
Façam sair as pessoas da sala.
Façam-nas sair da sala.
Exemplo 3:
Viu entrar os animais na área.
Viu-os entrar na área.
Exemplo 4:
Ouviu mugir as vacas.
Ouviu-as mugir.
Observação 1: Quando o sujeito localiza-se entre o verbo causativo/sensitivo e o infinitivo, pode ocorrer também a forma flexionada.
Exemplo:
Ouviram as cigarras cantar (ou cantarem) todos os dias.
Observação 2: Quando o infinitivo é um verbo pronominal (isto é, verbo que se conjuga com pronomes oblíquos “me”, “te”, “se”, “nos”, “vos”), a preferência é pela flexão.
Exemplos:
Viu os pedidos multiplicarem-se cada vez mais.
Eles viram as colegas afundarem-se em dívidas.
37.3.2.3 Infinitivo com preposição
Quando o infinitivo vem antecedido de preposição e funciona como complemento de substantivo, adjetivo ou do próprio verbo principal, dá-se preferência à forma não flexionada do infinitivo.
Exemplos:
Não estavam em situação de arriscar tanto.
Os consumidores estão mais dispostos a comprar produtos sustentáveis.
Os estudantes eram pontuais em cumprir seus deveres.
Estavam todos ávidos por conhecer o laboratório.
Esses remédios são ruins de tomar.
O resultado convenceu os responsáveis a mudar suas práticas.
O bom líder deve ensinar seus colaboradores a executar as tarefas.
Observação 1: Quando o infinitivo com preposição é empregado na voz passiva e funciona como complemento de certos adjetivos (“fácil”, “simples”, “capaz”, “digno”, entre outros), prefere-se a forma não flexionada do verbo “ser”.
Exemplos:
Há decisões difíceis de ser tomadas.
São obras dignas de ser imitadas.
Os alimentos industrializados são ruins de ser consumidos.
Observação 2: Quando o infinitivo com preposição aparece depois de um verbo na voz passiva, não deve ser flexionado.
Exemplo 1:
Os jornalistas foram forçados a saírem da sala. ERRADO
Os jornalistas foram forçados a sair da sala. CERTO
Exemplo 2:
Todos os produtores são obrigados a recuperarem as áreas nas margens dos rios. ERRADO
Todos os produtores são obrigados a recuperar as áreas nas margens dos rios. CERTO
37.3.2.4 Verbo "parecer" com infinitivo
Quando o verbo “parecer” vem seguido de outro verbo no infinitivo, são possíveis duas formas de concordância verbal:
- O verbo “parecer”, como verbo auxiliar, concorda com o sujeito, e o infinitivo não se flexiona, formando, assim, uma locução verbal.
Exemplos:
Os animais pareciam estar doentes.
Os resultados parecem confirmar os relatos dos produtores.
- O verbo “parecer”, quando for verbo intransitivo, fica na 3ª pessoa do singular, e o infinitivo se flexiona.
Exemplos:
Os animais parecia estarem doentes.
Os resultados parece confirmarem os relatos dos produtores.
Observação: É, portanto, incorreta a flexão conjunta do verbo “parecer” e do infinitivo na mesma oração.
Exemplos:
Os animais pareciam estarem doentes. ERRADO
Os resultados parecem confirmarem os relatos dos produtores. ERRADO
37.3.2.5 Verbo “ser” em construções com voz passiva
Quando em situação de voz passiva (verbo “ser” + verbo no particípio):
- Flexione o verbo “ser” quando forem diferentes os sujeitos da oração principal e da oração subordinada.
Exemplos:
A lei não obriga os jornais a serem entregues.
O viveirista separou os ramos a serem usados como enxerto.
É necessário antes completar o relatório técnico para os projetos serem aprovados.
O autor devolveu logo os textos a serem publicados.
- Não flexione o verbo “ser” quando o sujeito da oração principal está no plural e é o mesmo sujeito da oração com infinitivo.
Exemplos:
As leis foram feitas para ser obedecidas.
Os funcionários saíram da sala depois de ser atendidos.
Os produtores gostaram de ser ouvidos a respeito de suas dificuldades e dúvidas.
37.3.3 Construções com a partícula "se"
O “se” é partícula apassivadora em orações na voz passiva sintética com verbos transitivos diretos. Nesse caso, o verbo concorda com o sujeito.
Exemplos:
Vende-se casa.
Vendem-se casas.
O “se” é índice de indeterminação do sujeito quando ocorre com verbo transitivo indireto ou verbo intransitivo. Nesse caso, o verbo sempre fica na 3ª pessoa do singular.
Exemplo 1:
Precisam-se de operários especializados. ERRADO
Precisa-se de operários especializados. CERTO
Exemplo 2:
Vivem-se em paz aqui. ERRADO
Vive-se em paz aqui. CERTO
Para outras observações sobre esta partícula, consulte Usos da Partícula “se”.
37.3.4 Sujeito composto com “ou”
- Usa-se o verbo no singular:
- Se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos, isto é, se há ideia de exclusão.
Exemplos:
O presidente ou seu representante comparecerá ao evento.
O senador ou o deputado será eleito para presidir a sessão.
- Se há identidade ou equivalência entre os elementos ligados por “ou”.
Exemplo:
O Brasil ou o país com maior a biodiversidade do mundo enviou representantes para o evento internacional sobre preservação ambiental.
- Se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos, isto é, se há ideia de exclusão.
- Usa-se o verbo no plural se o fato expresso pelo verbo pode ser atribuído a todos os sujeitos.
Exemplos:
Frutas ou verduras fazem bem à saúde.
O candidato apresentou o documento cuja prorrogação ou cancelamento deveriam ter sido solicitados.
O calor ou o frio excessivo prejudicam certas plantas.
37.3.5 Núcleos do sujeito ligados por "com", "como", "bem como", "assim como", "além de", "ao lado de" e similares
- Usa-se o verbo no plural quando se pretender atribuir a mesma importância aos elementos do sujeito.
Exemplos:
O candidato com seu assessor político compareceram à audiência.
O líder assim como os demais deputados discordaram da proposta.
O presidente bem como seus ministros compareceram à solenidade.
- Usa-se o verbo no singular quando se quer realçar o primeiro elemento.
Exemplos:
O presidente, com sua comitiva, desembarcou hoje em Lisboa.
O diretor, com toda a equipe técnica, autorizou a execução do novo projeto.
A Empresa, além de entidades parceiras externas, realizou ações de transferência de tecnologia.
Observação: Nesse caso, o segundo termo (introduzido por “com” e similares) deve ser isolado por vírgulas.
37.3.6 Elementos ligados por expressões como "ligado a", "aliado a", "acrescido de" e similares
Embora essas expressões tenham valor de adição, são desconsideradas para a concordância com o verbo. O verbo deve, portanto, concordar com o núcleo do sujeito, que antecede o trecho introduzido por “ligado a” e similares (que deve estar isolado entre vírgulas).
Exemplos:
O faturamento, acrescido das dívidas, foi lançado no livro.
O presidente, aliado a seus assessores e conselheiros, tomou a decisão na hora exata.
37.3.7 Sujeito oracional ou constituído de verbos no infinitivo
Quando o sujeito é constituído de orações ou composto por dois ou mais infinitivos, o verbo fica no singular.
Exemplos:
Fumar e beber não traz benefícios ao organismo.
Errar e assumir é um ato de honestidade.
Nascer, crescer e morrer faz parte da condição de qualquer ser vivo.
Observação: Se os infinitivos estiverem substantivados ou indicarem contraste, o verbo vai para o plural.
Exemplos:
O viver e o sonhar bastam a uma vida feliz.
Dormir e acordar são dedicações diárias da vida do ser humano.
Rir e chorar fazem parte da vida.
37.3.8 Números fracionários
Se o sujeito for expresso por números fracionários, a concordância se faz com o valor expresso pelo numerador.
Exemplos:
Um quarto das propriedades possui menos de 1 ha.
Dois quintos das plantas foram contaminadas.
37.3.9 Expressões partitivas
Em orações com expressões partitivas (“a maioria de”, “a minoria de”, “grande parte de”, “a maior parte de”, “boa parte de”, “parte de”, “a menor parte de”, “uma porção de”, “mais da metade de”, “menos da metade de”, etc.), que denotam quantidade imprecisa, pode-se utilizar o verbo no singular ou no plural, dependendo da ênfase pretendida.
Geralmente, utiliza-se o verbo no singular (concordância com a expressão partitiva) para dar ênfase ao agrupamento ou ao conjunto, de modo que a ação é atribuída à totalidade.
Exemplos:
A maioria das pessoas foi ao evento.
A minoria das plântulas emergiu precocemente.
Grande parte dos insetos não foi analisada no experimento.
A maior parte dos funcionários aderiu à iniciativa.
Boa parte dos estudos abordou unicamente aspectos de caracterização do solo.
Parte do material ainda não foi levada para catalogação.
Mais da metade dos fazendeiros brasileiros teve grandes prejuízos com a estiagem prolongada.
Utiliza-se o verbo no plural (concordância com o termo especificador da expressão partitiva, ou seja, concordância atrativa) para dar ênfase aos elementos que formam o agrupamento.
Exemplos:
A maioria das culturas estão sujeitas à imprevisibilidade do clima.
A maior parte dos frutos descartados apresentavam-se murchos e com danos mecânicos.
Boa parte das sementes não germinaram.
Metade dos entrevistados confirmaram ter dificuldade de acesso aos recursos florestais.
Mais da metade dos estados entregaram os relatórios anuais no prazo.
Menos da metade dos microscópios foram consertados.
Uma porção dos frutos colhidos foram descartados por conta de imperfeições na casca.
37.3.10 Expressões de quantidade aproximada
Mais de um — Após a expressão “mais de um”, o verbo geralmente é empregado no singular, com base no numeral “um” da expressão.
Exemplos:
Mais de um tipo de dano pode ocorrer em uma única semente.
Ao fim do experimento, mais de um resultado foi contraditório.
No entanto, pode-se utilizar o plural quando se tratar de ação recíproca, ou a expressão vier repetida ou, ainda, o sujeito for um coletivo acompanhado de um complemento no plural.
Exemplos:
Mais de um funcionário se feriram durante o experimento.
Mais de um senador, mais de um deputado, mais de um prefeito homenagearam a Embrapa pela sua importância para a agricultura brasileira.
Anunciaram que mais de um grupo de pessoas saíram às ruas.
Menos de dois — Após a expressão “menos de dois”, emprega-se o verbo no plural, com base no numeral “dois” da expressão.
Exemplos:
Menos de dois plantios foram avaliados na última safra.
Menos de duas rodadas de avaliação bastariam para finalizar o projeto.
37.3.11 Sujeito com porcentagem
O numeral que indica porcentagem costuma estar acompanhado de um substantivo especificador, que pode estar no singular (por exemplo, 30% do rebanho leiteiro) ou no plural (por exemplo, 30% das vacas leiteiras).
Normalmente, é com esse especificador que o verbo concorda em número.
Exemplos:
Conforme apurado pelos peritos, 90% da superfície sofreu desgaste.
Constatou-se que 90% das amostras analisadas estavam em acordo com a legislação em vigor.
No entanto, há casos em que a concordância deve ser feita com o numeral:
- Se o numeral for 1% ou menos. Nesse caso, a concordância é no singular (independentemente do número do elemento especificador).
Exemplos:
Apenas 1% dos deputados votou para que a lei fosse aprovada.
No total, 0,8% dos funcionários aderiu ao projeto.
- Se o verbo estiver antes do numeral da porcentagem.
Exemplos:
Está perdido 1% da colheita.
Estão perdidos 10% da colheita.
Estão perdidos 10% das plantações.
Foram considerados 10% das respostas.
Perderam-se 30% da produção vinícola.
- Se o especificador da porcentagem estiver antes do numeral.
Exemplos:
Das indústrias, 50% estão obsoletos.
Dos funcionários, 10% faltaram ao evento.
Dos entrevistados, 1% não soube responder.
- Se o numeral estiver precedido de um determinante que o particulariza (com expressões como “esses”, “outros”, “os restantes”, etc.).
Exemplos:
Esses 20% da população morreram.
Os restantes 30% de aumento serão pagos.
Uns 10% da população ganham acima de R$ 10 mil.
Este 1% das empresas superou os prejuízos.
Para averiguar o uso das palavras “porcentagem/percentagem”, consultar a seção 37.5.
37.3.12 Concordância com "milhão", "bilhão", "trilhão"
Quando o sujeito for uma expressão com “milhão”, “bilhão”, etc., o verbo poderá concordar com o núcleo do sintagma ou com o numeral (mesmo quando o numeral que acompanha “milhão”, “bilhão”, etc. for menor do que dois).
Exemplos:
No Brasil, 1,3 milhão de produtores praticam a atividade leiteira.
No Brasil, 1,3 milhão de produtores pratica a atividade leiteira.
Depois do julgamento, 1,4 bilhão de dólares foram devolvidos aos cofres públicos.
Depois do julgamento, 1,4 bilhão de dólares foi devolvido aos cofres públicos.
Observação 1: Se o verbo for de ligação, a concordância é feita, de preferência, com o especificador.
Exemplo:
Um milhão de pessoas estão alojadas em centros comunitários.
Observação 2: Quando o verbo estiver antes do numeral, recomenda-se fazer a concordância com o numeral.
Exemplos:
No ano passado, sobrou 1,53 milhão de dólares.
No ano passado, 1,53 milhão de dólares sobraram.
Para concordância nominal nesses casos de “milhão”, “bilhão”, etc., consultar a seção 37.4.
Para uso de numerais, consultar a seção 23.
37.4 Concordância nominal
A regra geral de concordância nominal estabelece que os determinantes (adjetivo, pronome adjetivo, artigo, numeral) concordam em número e gênero com o determinado (substantivo ou pronome) a que se referem.
A seguir, estão elencados alguns casos especiais. Para explicações completas, consulte gramáticas.
37.4.1 Determinantes simples
Alerta
- Quando a palavra “alerta” é empregada como advérbio (no sentido de “em estado de prontidão”, “atentamente”), permanece invariável.
Exemplos:
Os guardas vigiavam alerta o portão principal.
O paciente esperava alerta pela chegada do médico.
As pessoas aguardavam alerta o resultado das eleições.
- Quando a palavra “alerta” é empregada como adjetivo (no sentido de “atento”, “vigilante”), concorda com o termo ao qual se refere.
Exemplos:
Eram guardas alertas.
As pessoas alertas não deixam passar boas oportunidades.
Anexo / Apenso / Leso / Incluso / Mesmo / Obrigado / Próprio / Quite
São palavras adjetivas; concordam, portanto, em gênero e número, com os nomes a que se referem.
Exemplos:
Segue anexo o livro.
Seguem anexas duas cópias do contrato.
A procuração está apensa aos autos.
Os atestados estão apensos ao processo.
Cometeu um crime de lesa-pátria.
Perpetuou atos de lesos-sentimentos.
O novo parágrafo foi incluso no texto.
Nesse levantamento, ainda não estão inclusas as perdas causadas pelas geadas de junho.
A diretora mesma falou com os novos contratados.
Os diretores mesmos falaram com os novos contratados.
Muito obrigada, disse ela.
Muito obrigados, disseram eles.
A própria pesquisadora cancelou o experimento.
Eles próprios chegaram atrasados ao evento.
Estou quite com os meus credores.
Eles estão quites com o cadastramento obrigatório.
Barato / Caro
- Quando empregadas como advérbios, as palavras “barato” e “caro” são invariáveis.
Exemplos:
Vendeu barato suas propriedades.
As máquinas agrícolas custam caro.
- Quando empregadas como adjetivo, as palavras “barato” e “caro” concordam, em gênero e número, com o nome a que se referem.
Exemplos:
Comprou produtos baratos.
As máquinas agrícolas estão caras.
Bastante / Bastantes
- Quando é advérbio, ou seja, modifica adjetivo, verbo ou outro advérbio, a palavra “bastante” é invariável. Nesse caso, tem o sentido de “muito”, “suficientemente”.
Exemplos:
Suas opiniões são bastante discutíveis.
Falaram bastante do assunto.
Esta planta aceita as podas bastante bem.
- Quando é adjetivo (tem o sentido de “suficiente”), a palavra “bastante” é variável. Nesse caso, concorda em número com o nome a que se refere (pronome ou substantivo).
Exemplos:
Havia insumos bastantes (= suficientes) para serem usados.
As chuvas não foram bastantes (= suficientes) para evitar as perdas.
É necessário / É preciso / É proibido / É bom / É permitido
Para locuções do tipo “é necessário”, “é preciso”, “é proibido”, “é bom”, “é permitido”, há duas construções possíveis:
- A expressão se mantém invariável se o sujeito não estiver precedido de artigo ou qualquer outro modificador.
Exemplos:
É necessário organização.
É preciso cautela.
É proibido entrada com alimentos e bebidas nos laboratórios.
É bom energia renovável para o planeta.
No processo de produção de alimentos orgânicos, não é permitido utilização de agrotóxicos.
- A expressão varia, concordando com o artigo ou com qualquer outro modificador a que se refira.
Exemplos:
É necessária muita água para regar aquelas plantas.
São precisos vários anos de pesquisa para o lançamento de novas cultivares.
É proibida a introdução de espécies não autóctones nas Unidades de Conservação.
São boas as perspectivas de expansão dessas culturas.
Não são permitidas quaisquer explorações agropecuárias em locais protegidos por lei.
Menos
A palavra “menos” é sempre invariável. Portanto, jamais será flexionada em gênero ou número.
Exemplo 1:
Há menas pessoas do que o previsto. ERRADO
Há menos pessoas do que o previsto. CERTO
Exemplo 2:
Nos períodos secos, as pastagens são menas produtivas. ERRADO
Nos períodos secos, as pastagens são menos produtivas. CERTO
Milhar, milhão, bilhão, etc.
- “Milhar” e “milhão”, assim como “bilhão”, “trilhão” e assim por diante, são substantivos masculinos. Portanto, seus modificadores (artigos, pronomes, adjetivos e numerais) devem concordar, em gênero e número, com os substantivos “milhão”, “bilhão”, etc.
Exemplos:
Uns 3 milhões de produtores esperam as novas medidas do governo.
Os milhares de mortes tiveram como causa um vírus desconhecido.
O país, cujos milhões de pessoas desabrigadas esperam por ajuda, está em crise.
Dos 9,5 milhões de toneladas de carne bovina produzida no Brasil, cerca de 7,2 milhões de toneladas destinaram-se ao mercado interno.
Observação: Números menores do que dois exigem as palavras “milhão”, “bilhão”, “trilhão” no singular.
Exemplos:
Em 2000, 1,84 milhão de hectares eram ocupados por espécies de Pinus no Brasil.
A dívida chegou a 1,4 bilhão de dólares.
O PIB semestral de 1,9 trilhão de reais revelou o crescimento econômico do país.
Para concordância verbal nesses casos, consultar a seção 37.3.
Para uso de numerais, consultar a seção 23.
- “Mil” é numeral. Pode, portanto, funcionar como um modificador de um substantivo. Nesse caso, o numeral “mil” pode ser acompanhado de outros modificadores (por exemplo, outros numerais, artigos e pronomes), que devem concordar em gênero e número com o substantivo que está sendo modificado.
Exemplos:
Dois mil representantes da cadeia produtiva da soja estiveram reunidos no congresso.
Duas mil mudas serão doadas.
O estudo foi realizado com as mil maiores empresas do país.
Os 1.005 produtores convidados para o evento compareceram acompanhados de familiares.
Possível
A palavra “possível”, nas expressões “o mais possível”, “o menos possível”, “o melhor possível”, “o pior possível”, tanto no singular quanto no plural, concorda com o artigo.
Exemplos:
Terras o mais férteis possível.
Terras as mais férteis possíveis.
Quanto possível
A expressão “quanto possível” é invariável.
Exemplo:
Coletaram tantos dados quanto possível.
Só / Sós
- “Só” (no sentido de “sozinho”) é um adjetivo e concorda, em número, com o nome a que se refere.
Exemplos:
Pediram para deixarem-no só (= sozinho).
Essas qualidades por si sós justificam a sua contratação.
Sós, os deputados não mudam as leis.
- “Só” (no sentido de “somente”) é um advérbio; portanto não varia.
Exemplo:
Só (= somente) eles não concordam.
37.4.2 Determinantes (adjetivos) compostos com hífen
Regra geral — Nos adjetivos compostos, somente o último elemento varia, tanto em gênero quanto em número.
Exemplos:
O encontro reuniu cientistas norte-americanos e brasileiros.
As questões econômico-financeiras foram abordadas pelo palestrante.
A publicação abordou os fatores histórico-culturais.
Ao fim do evento, foram assinados acordos luso-franco-brasileiros.
Clínicas médico-cirúrgicas foram vistoriadas.
O governo está tentando fechar acordos político-econômicos.
Exceção: Flexionam-se os dois componentes de “surdo-mudo”.
Exemplos:
Os meninos surdos-mudos foram recebidos na visita à Unidade.
A situação das crianças surdas-mudas é preocupante.
Adjetivos de cor — No caso específico de adjetivos compostos designativos de cor, há algumas particularidades a se considerar:
- Flexiona-se o segundo elemento quando os dois termos são adjetivos.
Exemplos:
Os adultos de Strategus aloeus são castanho-escuros.
Os resultados são identificados por tarjas azul-claras.
As folhas das extremidades dos ramos são verde-amarelas.
A casca do fruto tem tonalidade vermelho-roxa.
Os primeiros sintomas da ramulária são manchas verde-azuladas.
Os grãos de milhos coloridos, especialmente amarelo-alaranjados, destacam-se como fonte de carotenoides.
- Mantém-se invariável o composto quando um dos elementos é uma cor derivada de um substantivo (por exemplo: laranja, cinza, rosa, violeta, chumbo, gelo, oliva, areia, ouro, musgo, creme, vinho, etc.).
Exemplos:
As ninfas são verde-musgo.
Os consumidores preferem os frutos amarelo-ouro.
A rocha possui tons cinza-chumbo.
As asas da mariposa são cortadas por duas faixas violeta-escuro.
Os tons rosa-claro das flores chamaram a atenção do público.
A cultivar BRS Aracê tem como característica marcante os grãos verde-oliva.
As manchas marrom-café nas folhas indicavam a severidade da doença.
Quando plenamente desenvolvidas, as lagartas apresentam coloração cinza-escuro.
Observação 1: As cores “azul-marinho” e “azul-celeste” ficam invariáveis.
Exemplos:
Os uniformes azul-marinho não agradaram aos funcionários.
A capa do livro tinha tons azul-celeste.
Observação 2: Ficam invariáveis as locuções adjetivas formadas por “cor + de + substantivo”.
Exemplos:
As plantas do maracujá ‘BRS Rosea Púrpura’ produzem grande quantidade de flores cor-de-rosa.
Ela tem olhos cor de safira.
A fase de pupa ocorre no solo, no interior de um pupário cor de café.
Observação 3: O plural de “infravermelho” é “infravermelhos”. Já “ultravioleta” é invariável.
Exemplo:
Os raios ultravioleta e infravermelhos são necessários à vida.
Observação 4: Quando os adjetivos (simples ou compostos) designativos de cor são empregados como substantivos, assumem o gênero masculino e seguem a regra de plural dos substantivos compostos.
Exemplos:
O azul-turquesa se destacava em meio às outras cores.
As cores variavam entre o vermelho-escuro e o laranja.
Os verdes-escuros e os azuis mesclavam-se com tons mais claros.
Os amarelos-canários (ou amarelos-canário) se sobrepunham às demais tonalidades ali presentes.
Observação 5: Quando há uma sequência de “adjetivo composto + adjetivo simples”, o adjetivo composto varia ou não (de acordo com as regras já descritas anteriormente), e o adjetivo simples sempre concorda (em gênero e em número) com o substantivo ao qual se refere.
Exemplos:
As garrafas azul-claras transparentes devem ser separadas.
As garrafas rosa-escuro transparentes não foram utilizadas.
Os móveis castanho-escuros foscos são os preferidos dos consumidores.
Os móveis marrom-café foscos se destacavam entre os demais.
As amostras foram armazenadas nas latas verde-claras metálicas.
As listras laranja-claro metálicas chamavam a atenção.
Para uso de hífen em adjetivos compostos de cor, consultar a seção 38.3.1.1.
37.5 Emprego correto de expressões
Nesta seção, constam algumas expressões e palavras cujos uso e grafia corriqueiramente suscitam dúvida. As que demandam explicações mais extensas estão detalhadas com exemplos. As mais simples (tipicamente envolvendo simples erro de grafia) constam no quadro comparativo ao fim da seção.
37.5.1 Algumas expressões
À custa de
“À custa de” equivale às locuções “a expensas de” e “com o emprego de”.
Exemplos:
O país cresceu à custa de empréstimos internacionais.
Sua trajetória de sucesso foi conquistada à custa de muito esforço.
Observação 1: A palavra “custas” não forma locução. Por isso, evite a expressão no plural (“às custas de”).
Observação 2: A palavra “custas” (no plural) indica despesas de um processo criminal ou cível.
Exemplo:
As custas processuais foram calculadas sobre o valor do acordo.
A expensas de
“A expensas de” equivale à locução “à custa de”.
Exemplo:
Desempregado, vive a expensas do pai.
Observação: Prefira usar “a expensas de” (e não “às expensas de”).
Acerca de / A cerca de / Cerca de / Há cerca de
“Acerca de” equivale a “sobre”, “a respeito de”.
Exemplo:
Falou acerca da produção do algodão colorido.
“A cerca de” e “cerca de” são locuções que equivalem a “perto de”, “aproximadamente”.
Exemplos:
As mudas devem ser plantadas a cerca de 30 cm umas das outras.
Cerca de 50 espécies de cultivares foram cadastradas.
“Há cerca de” é locução que equivale a “faz aproximadamente”.
Exemplo:
Eles saíram há cerca de 40 minutos.
À medida que / Na medida em que
“À medida que” significa “à proporção que”, “conforme”.
Exemplo:
As taxas de crescimento aumentaram à medida que as novas técnicas foram adotadas.
“Na medida em que” corresponde a “tendo em vista que”, “uma vez que”, “porque”, “já que”.
Exemplo:
O projeto foi esquecido, na medida em que faltou investimento.
Ao invés de / Em vez de
No sentido de oposição, podem ser usadas as expressões “ao invés de” e “em vez de”.
Exemplos:
Em vez de [ou ao invés de] ajudar, atrapalhou.
Em vez de [ou ao invés de] entrar, saiu.
No sentido de substituição, só se usa “em vez de”.
Exemplo 1:
Ao invés de plantar soja, plantou sorgo. ERRADO
Em vez de plantar soja, plantou sorgo. CERTO
Exemplo 2:
Ao invés de se reunirem de forma presencial, os diretores realizaram uma videoconferência. ERRADO
Em vez de se reunirem de forma presencial, os diretores realizaram uma videoconferência. CERTO
Observação: A locução “de vez que” não existe em português. Deve ser substituída por “uma vez que”, “pois”, “porque”.
Exemplo:
A agricultura e a pecuária são dependentes das condições climáticas, de vez que são atividades desenvolvidas em ambientes naturais. ERRADO
A agricultura e a pecuária são dependentes das condições climáticas, uma vez que são atividades desenvolvidas em ambientes naturais. CERTO
Aonde / Onde
“Aonde” é advérbio que se usa com verbo de movimento (principalmente “chegar”, “ir”, “voltar”, “levar”, “retornar”, “dirigir-se”, que são construídos com a preposição “a”); equivale sempre a “para onde”.
Exemplo:
O criador não sabe aonde o capataz levou os animais doentes.
“Onde” indica permanência/localização.
Exemplo:
O criador não sabe onde estão os animais doentes.
Ao nível de / Em nível (de) / A nível (de)
“Ao nível de” é locução que tem o sentido exclusivo e literal de “à mesma altura de”.
Exemplo:
O Rio de Janeiro está ao nível do mar.
“Em nível (de)” e “a nível (de)” são locuções que devem ser evitadas por ser um modismo desnecessário. Na maioria das vezes, essas locuções são dispensáveis ou podem ser substituídas por: “com relação a”, “no que se refere a”, “como”, “no plano”, “no âmbito”.
Exemplo 1:
Foi bem avaliado em nível de presidente da associação. ERRADO
Foi bem avaliado como presidente da associação. CERTO
Exemplo 2:
A nível de produção agropecuária para exportação, o país vai bem. ERRADO
Em relação à produção agropecuária para exportação, o país vai bem. CERTO
Exemplo 3:
Foi um resultado excepcional a nível nacional. ERRADO
Foi um resultado excepcional em nível nacional. ERRADO
Foi um resultado excepcional no âmbito nacional. CERTO
A princípio / Em princípio / Por princípio
“A princípio” significa “no início”.
Exemplo:
A princípio, pensou em abandonar o projeto.
“Em princípio” significa “de modo geral”, “em tese”.
Exemplo:
Todos, em princípio, têm os mesmos direitos.
“Por princípio” equivale a “por convicção”.
Exemplo:
A instituição tem por princípio fomentar a fixação do agricultor no campo.
Até à / Até a
A crase após a preposição “até” é facultativa.
Exemplos:
Caminharam até a [ou até à] comunidade mais próxima.
Após a palestra, os visitantes foram até os [ou até aos] campos experimentais.
Através de
“Através de” é locução que equivale a “por dentro de”, “de um lado a outro”, “ao longo de”.
Exemplos:
Viajou através de todo o país.
A luz solar passava através do vidro.
A locução “através de” não deve ser utilizada quando o sentido for “por meio de”, “por intermédio de” ou “por”. Nesses casos, deve ser substituída por essas expressões.
Exemplo 1:
A notícia chegou através do ministro da Fazenda. ERRADO
A notícia chegou por intermédio do ministro da Fazenda. CERTO
Exemplo 2:
O assunto foi resolvido através de decreto. ERRADO
O assunto foi resolvido por meio de decreto. CERTO
Cessão / Sessão / Seção (ou Secção)
“Cessão” significa “o ato de ceder, de dar”.
Exemplo:
O pesquisador fez a cessão de sua patente.
“Sessão” significa “intervalo de tempo que dura (uma reunião, assembleia, trabalho, espetáculo)”.
Exemplo:
A Diretoria reuniu-se em sessão extraordinária.
“Seção” (ou “secção”) significa “parte de um todo”, “subdivisão”, “segmento”.
Exemplos:
As revistas foram adquiridas na seção [ou secção] de literatura da livraria.
Ele foi indicado para ser chefe da seção [ou secção].
Observação: A palavra “secção” corresponde também a “corte”, “amputação”, “ato de cortar”.
Exemplo:
A secção do talo foi feita com uma faca.
Como sendo
“Como sendo” é expressão desnecessária e evitável.
Exemplo:
Julgaram-no como sendo o melhor funcionário do ano. ERRADO
Julgaram-no o melhor funcionário do ano. CERTO
De... a / Entre... e
Para indicação de variação entre dois limites (valor, quantidade, percentual, etc.), podem-se usar:
- “De... a” (a preposição que se correlaciona com a preposição “de” é “a”).
Exemplo 1:
No estágio inicial da cultura, que pode variar de 15 e 30 dias, as irrigações devem ser leves e frequentes. ERRADO
No estágio inicial da cultura, que pode variar de 15 a 30 dias, as irrigações devem ser leves e frequentes. CERTO
Exemplo 2:
O aumento de rendimento foi de 30 e 40%. ERRADO
O aumento de rendimento foi de 30 a 40%. CERTO
- “Entre... e” (a conjunção que se correlaciona com a preposição “entre” é “e”).
Exemplo 1:
As bezerras devem tomar a vacina contra a brucelose entre 3 a 8 meses de vida. ERRADO
As bezerras devem tomar a vacina contra a brucelose entre 3 e 8 meses de vida. CERTO
Exemplo 2:
Participaram da capacitação entre 15 a 20 pessoas. ERRADO
Participaram da capacitação entre 15 e 20 pessoas. CERTO
De forma a / De modo a / De maneira a
Para expressar ideia de finalidade, podem-se usar as construções “de forma (a) que + verbo flexionado” ou “de forma a + verbo no infinitivo”.
Proceda do mesmo modo com “de maneira a”, “de modo a” e expressões semelhantes.
Exemplo 1:
Ele examinou o mapa, de forma [a] que tivesse uma noção exata do local.
Ele examinou o mapa, de forma a ter uma noção exata do local.
Exemplo 2:
Fez o trabalho de maneira [a] que agradasse ao chefe.
Fez o trabalho de maneira a agradar ao chefe.
Exemplo 3:
Os gotejadores foram espaçados de modo [a] que formassem uma linha contínua de molhamento.
Os gotejadores foram espaçados de modo a formar uma linha contínua de molhamento.
Desde... até
“Desde... até” ou “desde... a” são formas usadas apenas quando há uma gradação.
Exemplos:
Respeitava desde o mais humilde até o mais destacado funcionário da empresa.
A produção do tomate rasteiro pode ser mecanizada em praticamente todas as suas etapas, desde o plantio à colheita.
Observação: Por ser preposição, “desde” é palavra que não pode vir seguida de outra preposição.
Exemplo:
Eles trabalharam desde de manhã até de noite. ERRADO
Eles trabalharam desde a manhã até a noite. CERTO
Devido a
Quando usada na forma passiva ou como simples particípio no sentido de “causado por”, “em decorrência de”, a locução “devido a” deve concordar em gênero e número com o nome (substantivo ou adjetivo) a que se refere.
Exemplos:
A inflação e o desemprego eram devidos à má administração pública. [Forma passiva]
A queda devida à instabilidade da Bolsa agravou-se há alguns dias. [Particípio]
Quando usada como equivalente de “por causa de”, “graças a”, “desde que”, a locução “devido a” mantém-se invariável (portanto, não deve ser flexionada).
Exemplos:
Os custos de produção do arroz tiveram altas consideráveis especialmente devido à alta de preços dos insumos utilizados na lavoura.
A informação não estava disponível devido a problemas de comunicação.
Observação 1: Essa locução não deve ser usada sem preposição.
Exemplo:
Devido o mau tempo, a equipe cancelou o evento. ERRADO
Devido ao mau tempo, a equipe cancelou o evento. CERTO
Observação 2: A locução “devido a” não deve ser usada antes de infinitivo.
Exemplo 1:
Os resultados obtidos são positivos, devido a haver interesse do público pelo tema abordado. ERRADO
Os resultados obtidos são positivos, devido ao interesse do público pelo tema abordado. CERTO
Exemplo 2:
A produtividade foi menor devido aos insetos atacarem as plantas. ERRADO
A produtividade foi menor devido ao ataque dos insetos às plantas. CERTO
A produtividade foi menor porque os insetos atacaram as plantas. CERTO
Em função de
“Em função de” é locução que só deve ser empregada com a ideia de finalidade, dependência ou quando o texto se referir à relação matemática de função.
Exemplos:
A mulher vivia em função da família.
Na Figura 2, observa-se a produtividade de grãos de milho em função de doses de nitrogênio mineral aplicadas no estádio de quatro folhas.
Nos demais casos, devem-se usar outras expressões, como: “em virtude de”, “por causa de”, “em consequência de”, “em razão de”, “por”.
Exemplo 1:
De acordo com o estudo, as acerolas são consumidas mais comumente sob a forma de sucos e polpas congeladas em função da sua perecibilidade. ERRADO
De acordo com o estudo, as acerolas são consumidas mais comumente sob a forma de sucos e polpas congeladas por causa da sua perecibilidade. CERTO
Exemplo 2:
O experimento II produziu mais, em função do material utilizado. ERRADO
O experimento II produziu mais, em razão do material utilizado. CERTO
Enquanto
“Enquanto” é conjunção que indica tempo concomitante. Ao empregá-la, mantenha a correlação entre os tempos verbais.
Exemplos:
As sementes respondiam positivamente a todos os tratamentos, enquanto as testemunhas continuavam dormentes. [Pretérito imperfeito e pretérito imperfeito]
Enquanto a norma estiver em vigor, todos os municípios deverão segui-la. [Futuro do subjuntivo e futuro do presente]
Observação: Não existe a forma “enquanto que”.
Exemplos:
As folhas velhas apresentam cor verde, enquanto que as folhas jovens começam a amarelar. ERRADO
As folhas velhas apresentam cor verde, enquanto as folhas jovens começam a amarelar. CERTO
Entrelinha / Entre linha
“Entrelinha” é substantivo feminino.
Exemplos:
As entrelinhas do experimento foram espaçadas de 3 em 3 m.
Houve redução de entrelinhas de 80 para 50 cm.
Já “entre linha” é uma locução adverbial.
Exemplo:
Para cultivares de porte médio, recomenda-se um espaçamento de 2 a 3 m entre linhas e de 1 m entre plantas dentro da linha de plantio.
Face a
“Face a” é locução que deve ser substituída por “em face de”, “ante”, “diante de”, “por causa de” e expressões semelhantes.
Exemplo 1:
Face ao aquecimento global, é esperado que haja aumento de concentração de alguns poluentes. ERRADO
Em face do aquecimento global, é esperado que haja aumento de concentração de alguns poluentes. CERTO
Exemplo 2:
Face à escassez de recursos, o projeto foi arquivado. ERRADO
Por causa da escassez de recursos, o projeto foi arquivado. CERTO
Frente a
“Frente a” é locução que deve ser substituída por “diante de”, “ante”, “perante”, “defronte de”, “em face de” e expressões semelhantes.
Exemplo 1:
O réu apresentou-se frente ao juiz. ERRADO
O réu apresentou-se diante do juiz. CERTO
Exemplo 2:
A pesquisa avaliou a ocorrência de problemas fitossanitários frente às mudanças climáticas. ERRADO
A pesquisa avaliou a ocorrência de problemas fitossanitários diante das mudanças climáticas. CERTO
Exemplo 3:
O dólar teve nova desvalorização frente ao real. ERRADO
O dólar teve nova desvalorização ante o real. CERTO
Observação: A expressão “fazer frente a” (que significa “defrontar”, “enfrentar”) é correta. Vem sempre acompanhada da preposição “a”.
Exemplo:
Ela sempre fez frente às decisões da chefia.
Grosso modo
“Grosso modo” significa “de modo genérico”, “sem entrar em pormenores”. Use “grosso modo” sem preposição alguma (portanto, não use “a grosso modo”, “em grosso modo”, “de grosso modo”, etc.).
Exemplo:
Explicou, grosso modo, como funcionava o mecanismo.
Há / A
“Há” indica tempo passado, decorrido (equivale a “faz”).
Exemplo:
Os preparativos para a realização do evento tiveram início há 2 meses.
Para informações sobre a concordância com o verbo “haver”, consultar a seção 37.3.
“A” indica distanciamento no tempo (= tempo futuro) e no espaço.
Exemplos:
A segunda parte do treinamento será realizada daqui a 3 meses.
Chegou atrasado em virtude de um acidente ocorrido a 10 km do seu local de trabalho.
Haja vista
“Haja vista” é expressão invariável que significa “a julgar por”, “considerando-se”.
Exemplos:
O pinhão-manso sempre foi utilizado como fonte de óleo vegetal, haja vista as suas características físico-químicas e medicinais.
No sistema produtivo da bananeira, as doenças constituem a maior preocupação, haja vista o elevado nível de perdas que têm sido atribuídas a elas.
Independente / Independentemente
“Independente” é adjetivo.
Exemplo:
Ele é uma pessoa independente.
“Independentemente” é advérbio (usado sempre que puder ser substituído por “sem levar em conta”, “sem contar com”, “à parte”).
Exemplo:
Os solos arenosos, independentemente do [= sem levar em conta o] clima, constituem ambientes muito frágeis.
Infectado / Infestado
“Infectado” é adjetivo relativo à presença de microrganismos patogênicos (como bactérias, fungos e vírus) no interior de um órgão ou corpo, de modo a afetar a funcionalidade de suas células.
Exemplos:
O animal está infectado com o vírus da febre aftosa.
As sementes de tomate estavam infectadas com a bactéria Xanthomonas perforans.
“Infestado” é adjetivo relativo à instalação de parasitas microscópicos (como fungos e bactérias) ou macroscópicos (como piolhos, ácaros, etc.) na superfície de um órgão ou corpo.
Exemplo:
Os viveiros estão infestados de ácaros nocivos.
As sementes de ervilha estavam infestadas de micélio do fungo Sclerotinia sclerotiorum.
Ir ao encontro de / Ir de encontro a
“Ir ao encontro de” é empregado para indicar aproximação, concordância, situação favorável.
Exemplos:
A opinião do diretor foi ao encontro da de seus assessores. [= o diretor e os assessores concordam]
O tema do seminário veio ao encontro das demandas do setor produtivo.
A conclusão da pesquisa foi ao encontro dos achados anteriores. [= a conclusão foi convergente com os achados anteriores]
“Ir de encontro a” é empregado para indicar choque, oposição, ideias opostas.
Exemplos:
O ônibus foi de encontro ao muro.
A opinião do diretor foi de encontro à de seus assessores. [= o diretor e seus assessores discordam]
A conclusão da pesquisa foi de encontro aos achados anteriores. [= a conclusão divergiu dos achados anteriores]
Junto a
“Junto a” significa “perto de”, “ao lado de” ou “adido a”.
Exemplos:
O edifício foi construído junto à estação.
Estavam junto à sala de reuniões.
Foi designado embaixador junto ao Vaticano.
Não se deve usar “junto a” em construções em que a expressão entra no lugar de simples preposições.
Exemplo 1:
Entrou com recurso junto ao TSE. ERRADO
Entrou com recurso no TSE. CERTO
Exemplo 2:
Solicitou providências junto ao Conselho. ERRADO
Solicitou providências ao Conselho. CERTO
Exemplo 3:
O sindicato mantém as negociações junto à diretoria. ERRADO
O sindicato mantém as negociações com a diretoria. CERTO
Mau / Mal
“Mau” é adjetivo (antônimo de “bom”).
Exemplos:
O mau uso dos recursos naturais tem afetado a sociedade como um todo.
O mau estado nutricional das plantas acarreta predisposição ao ataque de pragas e doenças.
Observação: Por tratar-se de um adjetivo, “mau” pode ser flexionado.
Exemplos:
A deficiência hídrica é uma das principais causas da má formação de grãos.
Os animais recolhidos por maus tratos foram atendidos pelos veterinários.
“Mal” pode ser usado como:
- Advérbio de modo (antônimo de “bem”).
Exemplo:
O funcionário executou mal o trabalho.
- Conjunção temporal (equivale a “assim que”).
Exemplo:
Mal entrou em vigor, a reforma trabalhista já vai sofrer mudanças.
- Substantivo (quando precedido de artigo ou de outro determinante).
Exemplos:
O mal não tem remédio.
Evite este mal.
Melhor / Mais bem
Antes de particípio, use as formas “mais bem” e “mais mal”, em vez de “melhor” e “pior”.
Exemplo 1:
Esta reunião foi a melhor organizada. ERRADO
Esta reunião foi a mais bem organizada. CERTO
Exemplo 2:
As plantas melhor nutridas suportam melhor o ataque de pragas. ERRADO
As plantas mais bem nutridas suportam melhor o ataque de pragas. CERTO
Exemplo 3:
Esses eram os textos pior escritos da revista. ERRADO
Esses eram os textos mais mal escritos da revista. CERTO
Observação: A mesma regra se aplica aos casos em que os advérbios “bem” e “mal” se unem ao particípio por meio de hífen.
Exemplos:
Não há crítica mais bem-feita do que esta.
A transferência de embriões é uma das técnicas mais bem-sucedidas na área de reprodução animal.
Ela é a pessoa mais mal-humorada da equipe.
Use “melhor” e “pior” nos demais casos.
Exemplos:
Mesmo que quisesse, não faria melhor o trabalho.
Os citros desenvolvem-se melhor em regiões de clima mais ameno.
Plantas com menos vigor toleram pior os ataques de pragas e doenças.
Observação: Nos casos acima, “melhor” e “pior” funcionam como advérbios. Por isso, não devem ser flexionados. Situação diferente ocorre quando funcionam como adjetivos.
Exemplo:
Depois que as medidas foram implementadas, os resultados se tornaram melhores.
A maneira mais prática de verificar se “melhor” funciona como advérbio ou como adjetivo é trocá-lo por “bem” (advérbio) ou “bom” (adjetivo).
Veja a substituição:
Exemplo:
Depois que as medidas foram implementadas, os resultados se tornaram bons.
e não
Depois que as medidas foram implementadas, os resultados se tornaram bens.
Isso mostra que “melhor” aí é adjetivo e, por isso, deve ir para o plural.
Mesmo
“Mesmo” pode ser:
- Pronome demonstrativo, no sentido de “idêntico”; “em pessoa”.
Exemplos:
O laboratório tem o mesmo tamanho que a sala de reuniões.
Ela mesma arrumou o arquivo.
- Substantivo, no sentido de “a mesma coisa”.
Exemplo:
O pesquisador atualizou seu currículo Lattes e recomendou que seus alunos fizessem o mesmo.
- Advérbio, com o sentido de “exatamente”, “justamente”, “até”, “ainda”, “realmente”, “verdadeiramente”.
Exemplo:
O livro foi muito vendido mesmo.
Observação
É incorreto empregar o demonstrativo “mesmo” no lugar de um substantivo ou de um pronome pessoal. Nesses casos, deve ser substituído por “ele/ela” ou por palavras sinônimas à que se quer referir.
Exemplo 1:
O ministro não assinou o decreto, pois o mesmo precisava analisar melhor a questão. ERRADO
O ministro não assinou o decreto, pois ele precisava analisar melhor a questão. CERTO
Exemplo 2:
Antes de entrar no elevador, é preciso verificar se o mesmo se encontra neste andar. ERRADO
Antes de entrar no elevador, é preciso verificar se ele se encontra neste andar. CERTO
Exemplo 3:
Embora tenha sido utilizado esse teste, é importante alertar para a complexidade do mesmo. ERRADO
Embora tenha sido utilizado esse teste, é importante alertar para sua complexidade. CERTO
Exemplo 4:
Os meios mecânicos de corte variam de acordo com o equipamento disponível na propriedade e com as adaptações e regulagens efetuadas no mesmo. ERRADO
Os meios mecânicos de corte variam de acordo com o equipamento disponível na propriedade e com as adaptações e regulagens a que foi submetido. CERTO
Microrganismo / Micro-organismo
Ambas as formas são corretas; porém, por uma questão de padronização em suas publicações, a Embrapa optou pela forma “microrganismo”.
No sentido de
“No sentido de” é expressão que, usada para indicar finalidade, é um modismo a ser evitado. Pode ser substituída pela preposição “para” ou pelas locuções “a fim de”, “com o fim de”, “no intuito de”.
Exemplo:
Dirigiu-se à sala do chefe no sentido de ajudá-lo a terminar o trabalho. ERRADO
Dirigiu-se à sala do chefe para ajudá-lo a terminar o trabalho. CERTO
No entanto, para indicar significados ou acepções de uma palavra ou locução, a expressão “no sentido de” está correta.
Exemplo:
O verbo “cultivar”, no sentido de “exercer a agricultura”, está arrolado neste dicionário.
Onde / Em que
“Onde” usa-se como sinônimo de “em que” apenas quando a referência é a lugar físico.
Exemplo:
A pesquisa foi feita na fazenda, onde os pesquisadores acompanham o crescimento dos animais.
Nas demais situações, deve ser substituído por “em que”, “no(a) qual”.
Exemplo 1:
Durante a reunião, houve um momento onde todos tiveram a oportunidade de se manifestar. ERRADO
Durante a reunião, houve um momento em que [ou no qual] todos tiveram a oportunidade de se manifestar. CERTO
Exemplo 2:
A quantidade de adubo a ser aplicado por metro de linha pode ser calculada pela seguinte equação:
q = (Q × E)/10
em que
q = quantidade de adubo em gramas por metro.
Q = dose de adubo em quilogramas por hectare.
E = espaçamento em metros.
Porcentagem
Quando for necessário usar as palavras “porcentagem/percentagem” e “porcentual/percentual”, pode-se optar pela grafia com “per-“ ou com “por-“, já que ambas as formas estão registradas no Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp) (Academia Brasileira de Letras, 2022). Portanto, todas são aceitas nas publicações da Embrapa. No entanto, é preciso manter a consistência: uma vez escolhida uma forma (com o prefixo “per-“ ou “por-“), ela deve ser mantida até o fim do texto.
Por que / por quê / porquê / porque
Escreve-se por que (separado):
- Quando equivale a “pelo qual” e flexões.
Exemplos:
Este é o caminho por que [= pelo qual] os empregados passam todos os dias.
Estes são os direitos por que [= pelos quais] todos estão lutando.
Eis as causas por que [= pelas quais] o projeto não foi aprovado.
- Em interrogações diretas e indiretas. Nesse caso, a palavra “razão/motivo” estará subentendida.
Exemplos:
Por que [razão/motivo] ele não compareceu?
Não sabiam por que [razão/motivo] ele não comparecera.
Observação: Se ocorre no final da frase, usa-se “por quê” (separado e com acento).
Exemplo 1:
Ele faltou à reunião, por quê? [= Ela faltou à reunião, por que motivo/razão?]
Exemplo 2:
Os resultados da pesquisa não foram satisfatórios e não se sabe por quê [motivo/razão].
Exemplo 3:
— É necessário calibrar o equipamento antes do uso.
— Por quê? [= Por que razão/motivo?]
- Como complemento das expressões “eis”, “daí”, “não há”. Nesses casos, equivale a “motivo pelo qual” ou “razão pela qual”.
Exemplos:
Eis por que não se deve queimar ou retirar o mato cortado.
A uva é uma fruta bastante perecível, daí por que requer cuidados especiais.
Não há por que fazer a inscrição antecipadamente.
Escreve-se porquê (junto e com acento):
Quando se trata de substantivo. Nesse caso, vem precedido de artigo ou de outra palavra determinante.
Exemplos:
Não compreenderam o porquê da baixa produtividade.
Não explicaram os porquês do problema tampouco as formas de evitá-lo.
Escreve-se porque (junto e sem acento):
Quando se trata de uma conjunção causal ou explicativa, que pode ser:
- Subordinativa causal.
Exemplo:
A podridão-parda causou grandes prejuízos à produção, porque não foi controlada corretamente.
- Coordenativa explicativa, que equivale a “pois”.
Exemplo:
Faça logo sua inscrição, porque as vagas estão acabando.
Sem-terra
“Sem-terra” é expressão (sinônimo de lavrador que não possui terra própria) usada como substantivo ou como adjetivo e que não admite flexão de número (permanece sempre no singular).
Exemplos:
Os sem-terra organizaram um protesto em frente à prefeitura.
O prefeito recebeu representantes dos trabalhadores sem-terra.
Exceção: No nome oficial do movimento, não consta hífen.
Exemplo:
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra apresentou reivindicações.
Observação: Outras expressões com “sem-“ são igualmente invariáveis: “sem-família”, “sem-casa”, “sem-teto”, “sem-pátria”.
Sendo que
“Sendo que” não é expressão recomendável para unir orações. Em alguns casos, convém dispensá-la por ser inútil; em outros, é preferível substituí-la por uma conjunção ou por um pronome relativo.
Exemplo 1:
O pescador trouxe muitos peixes do rio; sendo que alguns deles ainda estavam vivos. ERRADO
O pescador trouxe muitos peixes do rio; alguns deles ainda estavam vivos. CERTO
Exemplo 2:
A cultura da soja abriga um elevado número de espécies de insetos, sendo que alguns causam sérios prejuízos à cultura. ERRADO
A cultura da soja abriga um elevado número de espécies de insetos, e alguns causam sérios prejuízos à cultura. CERTO
Exemplo 3:
Quinze espécies de árvores foram vendidas, sendo que cinco eram de origem brasileira. ERRADO
Quinze espécies de árvores foram vendidas, das quais cinco eram de origem brasileira. CERTO
Tampouco / Tão pouco
“Tampouco” significa “também não”.
Exemplos:
O deputado não compareceu às sessões, tampouco justificou sua ausência.
O conhecimento sobre estas espécies não está disseminado entre os agricultores, e seu uso tampouco.
“Tão pouco” significa “muito pouco” ou “algo diminuto, escasso, curto”.
Exemplos:
Ninguém acreditou que ele tivesse escrito aquele longo artigo em tão pouco tempo.
Preparou-se tão pouco para a apresentação que mal conseguia falar.
O salário subiu tão pouco que os funcionários quase não perceberam a diferença.
Todo / Todo o / Todos os
“Todo”, “toda” (sem artigo) significam “cada”, “qualquer”.
Exemplos:
Trabalha todo dia.
Toda nação tem problemas sociais.
“Todo o”, “toda a” (com artigo) equivalem a “inteiro”, “inteira”.
Exemplos:
Trabalhou todo o dia.
Toda a nação lutava pela soberania.
“Todos”, “todas” exigem sempre “os”, “as” em frases como:
Exemplos:
Todos os que reivindicaram mudanças foram atendidos.
Todos os candidatos foram aprovados.
Traz / Trás
“Traz” é a forma conjugada do verbo “trazer”.
Exemplos:
Investir em pesquisa traz retorno para a sociedade.
Este livro traz informações sobre o controle biológico de pragas na agricultura.
“Trás” só se emprega depois de preposição e pode exercer a função de locução adverbial (“para trás”), locução prepositiva (“por trás de”) ou locução adjetiva (“de trás = traseiro/a”).
Exemplos:
Ela olhou para trás e se arrependeu do que fez.
Eles pressentiram alguma intenção oculta por trás das palavras do orador.
Crianças de até 10 anos devem ser transportadas no banco de trás.
37.5.2 Outras expressões mais simples
Alguns exemplos de expressões simples (tipicamente envolvendo erro de grafia) constam no quadro comparativo abaixo.
Errado | Certo |
---|---|
Ele é de menor [ou de maior]. | Ele é menor [ou maior] de idade. |
Este condomínio é de casas germinadas. | Este condomínio é de casas geminadas. |
As sementes foram geminadas em Latossolo. | As sementes foram germinadas em Latossolo. |
O problema não tem nada haver com você. | O problema não tem nada que ver com você OU O problema não tem nada a ver com você. |
Foi testada a homogenidade das amostras. | Foi testada a homogeneidade das amostras. |
O atleta melhor preparado conquistou a medalha de ouro. | O atleta mais bem preparado conquistou a medalha de ouro. |
37.6 Construções redundantes
A seguir, estão listados, em ordem alfabética, exemplos de construções que, por serem normalmente redundantes, devem ser evitadas:
Abertura inaugural | Há tempos atrás |
Adiar para depois | Inaugurar novo |
Ambos os dois | Lançamento de novo livro |
Anexo junto a | Manter o mesmo |
A seu critério pessoal | Metades iguais |
Base inferior | Novidade inédita |
Consenso geral | Panorama geral |
Continuar ainda | Pequenos detalhes |
Criar novos | Permanecer ainda |
Deficit negativo | Pomar de frutas |
Descer para baixo | Principal protagonista |
Detalhes minuciosos | Recuar para trás |
Eis aqui | Sair para fora |
Elo de ligação | Sintomas indicativos |
Empréstimo temporário | Semelhantes entre si |
Encarar de frente | Senadores do Senado |
Entrar dentro | Sorriso nos lábios |
Erário público | Subir para cima |
Escolha opcional | Submissão passiva |
Exportar para fora | Superavit positivo |
Exultar de alegria | Surpresa inesperada |
Goteira no teto | Todos são unânimes |
Gritar alto | Vereadores da Câmara |
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